A Assembleia Nacional aprovou legislação
que permite as “barrigas de aluguer”, ou seja, mulheres que, por exemplo, não
têm útero - há as que nascem sem ele, improvável mas pode acontecer - embora possuam em perfeitas condições a parte restante do seu aparelho
reprodutivo. Numa situação destas, é tecnicamente
possível recorrer a uma barriga de aluguer, muitas vezes acontece ser uma irmã,
onde é depositado o óvulo fecundado para aí se desenvolver.
É o aproveitamento de técnicas científicas
a favor de uma maternidade que não aconteceria sem o recurso a esta técnica.
Para mim, para muitas pessoas, e para a
maioria dos nossos deputados, pareceu-nos bem. Se a técnica existe, se permite
a concretização de um anseio de que depende a felicidade de uma pessoa ou de um
casal, porque razão não o utilizar?
Contudo, não pareceu bem ao Sr. Padre
Feytor Pinto, distinto representante do nosso clero, ex-coordenador da Pastoral
da Saúde porque, segundo afirma, vai contra a ética, subentende-se que
religiosa, embora, para o Sr. Padre, não haja outra.
A presença da Igreja católica é
indispensável em dois momentos essenciais da vida humana: nascimento e morte.
São momentos cruciais que marcam a sua
importância para o resto da vida, neste mundo e no outro, e aos quais a igreja
não pode faltar para que o exercício do seu poder de influencia junto dos
crentes se exerça em toda a sua plenitude.
A Igreja católica, ciosa desse seu
poder, tem sido contra todos os avanços científicos que “mexam” com o nascimento
e a morte, indo ao ponto de, em tempos, ser contra as vacinas porque entendia
que a vida pertence a Deus e só ele tinha poderes para dispor dela., prolongado-a ou encurtando-a.
Mais recentemente, o uso de
preservativos também não era aceite pela doutrina religiosa por razões idênticas, embora
seja reconhecido, de há muito, que o controle da natalidade em sociedades pobres e
atrasadas nas quais, mais filhos, significa mais fome e miséria social e
humana, seja indispensável, chegando-se ao ponto do exagero dos chineses com a política do filho único que conduziu à falta, hoje, de raparigas em idade de casar, porque os pais preferiam rapazes.
Depois, mais tarde e por vergonha
perante os seus próprios seguidores, para evitar o que seria um clamor público
acaba por aceitar esses avanços da ciência que são em prol da qualidade da vida das
pessoas.
Para a Igreja, um homem é sempre um
homem “macho” e deve comportar-se como tal, ou então não se comporta, abstêm-se, procurando, para isso, força nos confessionários pelo recurso à sua fé em Deus.
Quanto à mulher, é exactamente o mesmo,
idem, idem, aspas, aspas.
Condenando os casamentos homossessuais,
o que a igreja defende é uma descriminação dos sexos em que uns podem fazer uma coisa
e outros não, na linha dos filhos nascidos em barriga de aluguer que vão contra
a ética, de acordo com o Sr. Padre Feytor Pinto.
Quem não respeitar estas regras e
desobedecer viverá em pecado, em conflito permanente com a sua religião, pondo
em causa permanentemente a sua estabilidade de crente e o seu futuro neste mundo
e no outro. A ameaça de castigo, a instalação do medo
é a grande arma das religiões.
O Pai Divino não exerce o seu poder só para o
bem, ele tem os seus critérios e, como qualquer pai, também castiga e, por
vezes, de forma incompreensível...
Lembram-se do terramoto de Lisboa de 1
de Novembro de 1775, à hora em que toda a gente estava a rezar nas igrejas,
matou mais de 60.000 pessoas, destruiu a cidade, e fez perceber que afinal, ou
a lógica era uma batata, ou Deus não queria saber de nós para nada, pelo menos
dos lisboetas...
Será esta a ética a que se refere o Sr.
Padre, a ética religiosa, ou a outra que diz que a vida deve resultar de dois
gâmetas unidos desde a sua fusão até ao nascimento da criança, ou então não há
criança?
Claro que há dificuldades a ultrapassar.
O ideal é que todos os casais pudessem ter os filhos que quisessem de forma
natural mas que isso não sirva de desculpa...
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