sexta-feira, junho 10, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)



Episódio Nº 29


















Enquanto se dirigia a casa do ferreiro galego, com ar falsamente combalido, o Velho sorria contente consigo próprio. O Trava ia ficar a saber onde estava a relíquia, aquela palavra em latim era a chave para a encontrar!

Grato, o seu senhor talvez lhe oferecesse, umas benesses, uma boa casa onde terminar os seus dias, uma rapariga que pudesse possuir antes de se apagar.

Durante seis longos anos sujeitara-se a uma castidade insuportável para não levantar suspeitas na ordem do Templo, mas estava na hora de colocar um ponto final naquela via sacra!

Embalado por este excitante pensamento bateu à porta do ferreiro que lhe cedeu uma mula montado na qual saiu de Coimbra.

Já na estrada deu-se conta de que transportava na alma um único agravo. Não conseguira matar aquela velha senil, a bruxa, a quem não perdoava a antiga desavença.

A sua fúria contra Shoba não se desvanecera, pelo contrário, Cada vez odiava mais aquela mulher, cuspiu para o chão, irritado por não a ter eliminado da face da Terra.


Como é evidente, naquele dia o Velho não sabia que em breve regressaria ao Sul e teria nova oportunidade para tentar destruir a estranha e misteriosa Sohba.

A bruxa ligou-nos a todos, era o que sempre me dizia a princesa Zaida.





Coimbra, Julho de 1132



Naquela final de manhã, estávamos reunidos com o bispo Bernardo na Sé, quando lá entrou o agitado Ramiro. Vendo-o avançar, Afonso Henriques ergueu as sobrancelhas, curioso:

 - Haveis, finalmente encontrado a relíquia?

Meu pai, meu tio Ermígio, Peres Cativo e eu próprio mirámos o bastardo de Paio Soares.

Pai, eles odeiam-me


Embora bem mais entroncado do que no passado, Ramiro pareceu-me nervoso e baixou os olhos quando narrou o sucedido nas margens do Nabão, onde encontrara uma companhia de galegos empalada por Abu Zhakaria.

Que descaramento -  rugiu o príncipe de Portugal – enviarem soldados para me roubarem a relíquia!

A fúria do meu melhor amigo contra Fernão Peres de Trava reacendeu-se. Uma expedição galega ao Nabão era um atrevimento inaceitável!

Logo ali, o príncipe imaginou uma retaliação na Galiza, um qualquer gesto bélico que lhe extinguisse a cólera.

O castelo de Celmes não está pronto – lembrou porém meu pai.


Gonçalo de Sousa dirigia as obras na fortificação mas só se previa a conclusão da muralha no natal. O que significava que os portucalenses eram vulneráveis a um ataque surpresa do Trava.

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