(Domingos Amaral)
Episódio Nº 29
Enquanto se dirigia a casa do ferreiro
galego, com ar falsamente combalido, o Velho sorria contente consigo próprio. O
Trava ia ficar a saber onde estava a relíqui a,
aquela palavra em latim era a chave para a encontrar!
Grato, o seu senhor talvez lhe oferecesse,
umas benesses, uma boa casa onde terminar os seus dias, uma rapariga que
pudesse possuir antes de se apagar.
Durante seis longos anos sujeitara-se a
uma castidade insuportável para não levantar suspeitas na ordem do Templo, mas
estava na hora de colocar um ponto final naquela via sacra!
Embalado por este excitante pensamento
bateu à porta do ferreiro que lhe cedeu uma mula montado na qual saiu de
Coimbra.
Já na estrada deu-se conta de que
transportava na alma um único agravo. Não conseguira matar aquela velha senil,
a bruxa, a quem não perdoava a antiga desavença.
A sua fúria contra Shoba não se
desvanecera, pelo contrário, Cada vez odiava mais aquela mulher, cuspiu para o
chão, irritado por não a ter eliminado da face da Terra.
Como é evidente, naquele dia o Velho não
sabia que em breve regressaria ao Sul e teria nova oportunidade para tentar
destruir a estranha e misteriosa Sohba.
A bruxa ligou-nos a todos,
era o que sempre me dizia a princesa Zaida.
Coimbra, Julho de 1132
Naquela final de manhã, estávamos reunidos
com o bispo Bernardo na Sé, quando lá entrou o agitado Ramiro. Vendo-o avançar,
Afonso Henriques ergueu as sobrancelhas, curioso:
-
Haveis, finalmente encontrado a relíqui a?
Meu pai, meu tio Ermígio, Peres Cativo e
eu próprio mirámos o bastardo de Paio Soares.
Pai, eles odeiam-me
Embora bem mais entroncado do que no
passado, Ramiro pareceu-me nervoso e baixou os olhos quando narrou o sucedido
nas margens do Nabão, onde encontrara uma companhia de galegos empalada por Abu
Zhakaria.
Que descaramento - rugiu o príncipe de Portugal – enviarem
soldados para me roubarem a relíqui a!
A fúria do meu melhor amigo contra Fernão
Peres de Trava reacendeu-se. Uma expedição galega ao Nabão era um atrevimento
inaceitável!
Logo ali, o príncipe imaginou uma
retaliação na Galiza, um qualquer gesto bélico que lhe extinguisse a cólera.
O castelo de Celmes não está pronto –
lembrou porém meu pai.
Gonçalo de Sousa dirigia as obras na
fortificação mas só se previa a conclusão da muralha no natal. O que significava
que os portucalenses eram vulneráveis a um ataque surpresa do Trava.
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