(continuação)
Richard Dawkins
A teoria geral da
religião como subproduto acidental – um tiro falhado de algo útil – é aquela
que defendo e a título de exemplo continuarei a fazer uso da minha teoria da
“criança crédula” cujo cérebro é, por bons motivos, passível de ser infectado
por “vírus” mentais.
Por que motivo se
manifesta a “infecção” sob a forma de religião e não sob a forma de… bem, de
quê?
Parte do que quero
dizer é que não importa que tipo concreto de disparate vai infectar o cérebro
da criança. Uma vez infectada, ela vai crescer e infectar a geração seguinte
com o mesmo disparate, qualquer que ele seja.
Uma panorâmica
antropológica dá-nos conta da diversidade das crenças irracionais humanas. Uma
vez entrincheiradas numa cultura, perduram, desenvolvem-se e espalham-se, de
uma forma que faz lembrar a evolução biológica. Por vezes os feitiços e
encantamentos vão inspirar-se no mundo real e de um modo trágico. A crença de
que o corno do rinoceronte, uma vez reduzido a pó possui propriedades
afrodisíacas, o que é absolutamente absurdo tem a sua origem na suposta
semelhança entre um corno e um pénis viril.
Presumo que as
religiões, tal como as línguas, evoluem de uma forma bastante aleatória mas
também de uma forma interesseira, que favorece a própria religião quando, por
exemplo, ensinam a doutrina, segundo a qual, as nossas personalidades
sobrevivem à morte física. A própria ideia de imortalidade sobrevive e alastra
porque vai ao encontro dos que tendem a tomar os desejos por realidade. E esta
ilusão tem o seu valor porque a psicologia humana encerra uma tendência quase
universal para permitir que a crença se deixe colorir pelo desejo.
Parece não haver
dúvidas de que muitos dos atributos da religião estão bem ajustados ao esforço
de ajudar à sobrevivência da própria religião.
Martinho Lutero tinha
a clara consciência de que a razão era a arqui -inimiga
da religião e muitas vezes advertiu para os seus perigos:
«A razão é o maior inimigo
da fé; nunca vem em auxílio das coisas espirituais, e as mais das vezes luta
contra o verbo divino, tratando com desprezo tudo o que emana de Deus».
E mais adiante
continua:
«Quem qui ser ser cristão deve arrancar os olhos à sua
própria razão»
E continua:
«A razão deve ser
destruída em todos os cristãos»
Lutero não teria
nenhuma dificuldade em conceber ou desenhar de forma inteligente aspectos
ininteligentes de uma religião para ajudá-la a sobreviver.
«A verdade, em
religião, não é senão a opinião que sobreviveu»
Óscar Wilde
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