(Domingos Amaral)
Episódio Nº 89
Mem relembrou a proposta de
Ermígio Moniz, talvez cristãos e muçulmanos devessem trocar as princesas pelo
tesouro, sem necessidades de escaramuças e mortes sangrentas.
Porém, Ramiro, recusou tal
ideia, jamais aceitaria negociar com os mouros! - Vós é que sois amigos deles –
acusou.
Entretanto, chegara perto da
carroça, o mestre da Ordem do templo de Soure, Jean Raymond, que, ao ouvir a
referência à proposta de Ermígio Moniz, se pronunciou:
- Era esse o plano de mestre
Gondomar.
Primeiro comandante dos
Templários em Soure, Gondomar fora um velho cavaleiro que vivera muitos anos na
Terra Santa. Chegara a Portugal para procurar a relíqui a
sagrada, quando soubera da existência da bruxa Sohba tentara ir ter com ela.
Pelos vistos, o seu
objectivo era semelhante ao do meu tio Ermígio Moniz, uma troca entre mouros e
cristãos. Contudo, mestre Gondomar nunca chegara a falar com Sohba, pois também
ele fora eliminado pelo assassin.
Mesmo confrontado com esta
relevante recordação, Ramiro reforçou a sua convicção de que os mouros usariam
todas as artimanhas para enganarem os cristãos.
Suspenso o fossado de Peres
Cativo, era tempo dos Templários de Soure voltarem a liderar a demanda da relíqui a..
Mestre, temos de ser nós a
encontrá-la! – exclamou.
Jean Raymond estava ciente
de que era essa a suprema missão da Ordem do Templo naquelas terras de
fronteira mas não queria alimentar uma querela inútil com Afonso Henriques, que
afastara os templários das buscas.
- Então, tenho de convencer
o príncipe! – afirmou Ramiro.
Vou a Coimbra hoje mesmo
antes que ele rume ao Norte!
A comitiva bélica
portucalense estava prestes a partir para as guerras na Galiza e, por isso,
Ramiro correu à cavalariça e trouxe um cavalo que logo montou, reaproximando-se
da carroça, enquanto Mem escondia o seu desagrado num silêncio indiferente.
Não gostava de Ramiro,
julgava-o um homem de carácter duvidoso, com o coração carregado de iras mal
resolvidas, que odiava mulheres e sempre fora hostil às princesas.
Teria de gramar a sua
companhia solitária, mas de súbito surpreendeu-se, quando o Rato, um templário
menor sem funções hierárqui cas na
Ordem, pediu a jean que o deixasse ir também.
Obtida a autorização, o Rato
saltou para a garupa do cavalo do seu
colega, cumprindo a tradição de partilha do mesmo animal por dois monges guerreiros.
- Vamos! – gritou já
abraçado à cintura de Ramiro – E queira Deus que os mouros não os apanhem como
da outra vez.
Sete verões antes, Mem tinha
ajudado Ramiro e os outros monges guerreiros a fugirem de um ataque de Abu
Zakaria a Soure.
Nessa época começara por
estimar Ramiro mas a forma desrespeitosa como o outro tratara Zaida e Fátima
tinha alterado a sua opinião.
Mil anos depois são outros os bois...
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