quarta-feira, setembro 21, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)





Episódio Nº 89


















Mem relembrou a proposta de Ermígio Moniz, talvez cristãos e muçulmanos devessem trocar as princesas pelo tesouro, sem necessidades de escaramuças e mortes sangrentas.

Porém, Ramiro, recusou tal ideia, jamais aceitaria negociar com os mouros! - Vós é que sois amigos deles – acusou.

Entretanto, chegara perto da carroça, o mestre da Ordem do templo de Soure, Jean Raymond, que, ao ouvir a referência à proposta de Ermígio Moniz, se pronunciou:

- Era esse o plano de mestre Gondomar.

Primeiro comandante dos Templários em Soure, Gondomar fora um velho cavaleiro que vivera muitos anos na Terra Santa. Chegara a Portugal para procurar a relíquia sagrada, quando soubera da existência da bruxa Sohba tentara ir ter com ela.

Pelos vistos, o seu objectivo era semelhante ao do meu tio Ermígio Moniz, uma troca entre mouros e cristãos. Contudo, mestre Gondomar nunca chegara a falar com Sohba, pois também ele fora eliminado pelo assassin.

Mesmo confrontado com esta relevante recordação, Ramiro reforçou a sua convicção de que os mouros usariam todas as artimanhas para enganarem os cristãos.

Suspenso o fossado de Peres Cativo, era tempo dos Templários de Soure voltarem a liderar a demanda da relíquia..

Mestre, temos de ser nós a encontrá-la! – exclamou.

Jean Raymond estava ciente de que era essa a suprema missão da Ordem do Templo naquelas terras de fronteira mas não queria alimentar uma querela inútil com Afonso Henriques, que afastara os templários das buscas.

- Então, tenho de convencer o príncipe! – afirmou Ramiro.

Vou a Coimbra hoje mesmo antes que ele rume ao Norte!

A comitiva bélica portucalense estava prestes a partir para as guerras na Galiza e, por isso, Ramiro correu à cavalariça e trouxe um cavalo que logo montou, reaproximando-se da carroça, enquanto Mem escondia o seu desagrado num silêncio indiferente.

Não gostava de Ramiro, julgava-o um homem de carácter duvidoso, com o coração carregado de iras mal resolvidas, que odiava mulheres e sempre fora hostil às princesas.

Teria de gramar a sua companhia solitária, mas de súbito surpreendeu-se, quando o Rato, um templário menor sem funções hierárquicas na Ordem, pediu a jean que o deixasse ir também.

Obtida a autorização, o Rato saltou para a garupa do cavalo  do seu colega, cumprindo a tradição de partilha do mesmo animal por dois monges guerreiros.

- Vamos! – gritou já abraçado à cintura de Ramiro – E queira Deus que os mouros não os apanhem como da outra vez.

Sete verões antes, Mem tinha ajudado Ramiro e os outros monges guerreiros a fugirem de um ataque de Abu Zakaria a Soure.

Nessa época começara por estimar Ramiro mas a forma desrespeitosa como o outro tratara Zaida e Fátima tinha alterado a sua opinião.


Mil anos depois são outros os bois...

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