(Domingos Amaral)
Episódio Nº 93
Foi nesse momento que Ramiro
entrou na Sé, seguido pelo Rato, mas provavelmente não terá ouvido as últimas
palavras do bispo, pois quando o príncipe de Portugal lhe perguntou que novas
trazia o templário informou que Abu Zakaria não tinha intenções de atacar
Coimbra.
Os mouros iriam ficar qui etos em Santarém o que, somado à suspensão do
fossado de Peres Cativo, permitia a pacificação da zona, possibilitando aos
templários reiniciarem a busca da famosa relíqui a.
- É o momento certo - defendeu Ramiro.
O bispo Bernardo, que assim
via a sua lógica política ruir, dirigiu-lhe um olhar furioso, mas a sugestão de
Ramiro não convenceu Afonso Henriques.
A Ordem do Templo já antes
tentara, sem sucesso procurar o artefacto sagrado. Além disso, lembrou o meu
tio Ermígio Moniz, uma ida dos templários até ao Nabão seria sentida pelos
mouros como uma provocação torpe.
Se Zakaria não nos ataca,
também não o devemos fazer, é uma insensatez! – considerou meu tio Ermígio.
Mais valia promover um
encontro pacífico, em que ambos cediam o que a outra parte desejava. Ao ouvi-lo
Ramiro indignou-se:
- Não é admissível comerciar com infiéis!
Desta vez notei que o bispo
Bernardo sorriu, pois também pensava assim e já o proclamara. E Afonso
Henriques continuava a defender idêntica postura, embora lhe desagradasse
concordar com aquele truculento e antipático religioso. Talvez por isso,
mostrou-se estranhamente desinteressado da relíqui a.
- Nada disso é prioritário! Quero atacar Tui e
libertar Gonçalo!
Levantando-se, pareceu-me um
gigante inimitável quando apontou para Pêro Pais e exclamou:
- Este rapaz de seis anos arriscou a vida para
nos vir avisar. Temos de lutar por ele, por Gonçalo e por todos os portucalenses
que morreram em Celmes!
Ouviu-se uma aclamação
geral. O intenso desejo de retaliação guerreira inflamava os nossos corações,
sobrepondo-se a tudo o resto.
A busca da relíqui a ficaria suspensa, as princesas continuariam
presas em Coimbra e a inauguração da capela do Mosteiro de Santa Cruz avançaria
mesmo!
Dito isto, o príncipe de
Portugal anunciou mais uma novidade: como Peres cativo iria connosco para o
Norte, o comandante das tropas no Sul seria Paio Guterres, em depositava a
máxima confiança! O cavaleiro -vilão ajoelhou à sua frente, agradecendo a
honra, enquanto o príncipe acrescentava:
- Além de destemido guerreiro, haveis trazido
até nós, são e salvo, o filho primogénito de Chamoa!
O coração do meu melhor
amigo amaciara-se um pouco, ao ouvir da boca do petiz os relatos das sucessivas
tentativas da mãe de nos avisar dos planos de ataque contra Celmes.
Comovera-o essa manifestação
de lealdade da minha cunhada galega, bem como o encontro com Pêro Pais que
todos admirávamos e em quem se viam estampadas as nobres qualidades do seu
defunto pai, Paio Soares.
Quem ficou atarantado com
aquela declaração do príncipe foi Ramiro. O pobre templário, ao ouvir falar em
Chamoa, tornou-se lívido. Olhava para Pêro Pais, abria e fechava a boca,
engolindo em seco, sem entender.
Vendo-o paralisado, Afonso
Henriques perguntou-lhe, espantado por ele nada dizer ou fazer:
- Não abraçais vosso irmão?
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home