a nossa história...
No meu país nada se
passa de importante. Somos tão pequeninos no contexto do mundo que, não fora a
nossa língua, esta em que vos escrevo, e que é falada por muitos milhões de
pessoas em três grandes países: Brasil, Angola e Moçambique e corríamos o risco
de passarmos completamente despercebidos. Salvou-nos a nossa história...
Dependemos de todos,
a começar pela nossa vizinha Espanha, com quem mais comercializamos e ninguém
depende de nós. Felizmente, não temos essa responsabilidade...
A Comissão Europeia
preocupa-se com os números do nosso Deficit, especialmente um senhor, alemão,
que se desloca em cadeira de rodas, e que é muito exigente connosco. Tivemos
uma Ministra das Finanças que até ia falar-lhe ao ouvido. Esse é o tipo de preocupação que têm connosco: manterem-nos pobres...
A nossa riqueza cresce
pouco, os investidores, nacionais e estrangeiros, parece não gostarem muito de
nós e, no entanto, todos nos acham boas pessoas, afáveis, simpáticas,
hospitaleiras, e com uma cozinha saborosa, variada e barata. Não se come melhor
em nenhuma outra parte do mundo, sem exageros.
Por isso, a nossa
grande indústria exportadora é o turismo. Ainda a semana passada, na minha
visita mensal à Lisboa, a encontrei a abarrotar de gente, que com as obras na
parte baixa da cidade, virou uma grande confusão.
No regresso, levei o
dobro do tempo para chegar à Estação do Comboio e pude verificar toda aquela
dinâmica operária, que me agradou. Assim pudesse acontecer connosco, chegados a
uma certa idade, entrávamos em obras e ficávamos depois como novos...
Mas, importante,
mesmo, é a conversa entre o Trump e a Hillary, esta madrugada, que será seguida
por mais de 100 milhões de americanos. No fundo, será um teste à capacidade de
controle e de domínio da presença de cada um frente às câmaras porque, palavras
“leva-as o vento”, o que fica é a imagem.
No primeiro debate
deste tipo, entre Kennedy e Nixon, quem o ouviu deu a vitória ao segundo mas
para os que viram quem ganhou foi Kennedy.
As sondagens, que já
foram muito favoráveis a Hillary, são agora “alarmantes” desde que ele parou
com as “bacoradas” verbais: 49% para ela e menos 2% para Trump...
É verdade, que ele é,
comparado com ela, praticamente ignorante, mas que interessa isso se lhe sobra
em confiança, a roçar o desplante, dizendo sempre o que pensa, como é costume
das pessoas de muito dinheiro, coisa que o auditório aprecia.
No entanto, essa
arrogância, pode virar-se contra ele, porque se, por um lado, mostra
sinceridade, também revela os defeitos que são muitos e têm a ver com a falta
de preparação, de controle, da tendência para mentir, e o seu desprezo pelas
mulheres.
Na Europa, Trump,
podia já desistir, não teria qualquer hipótese mas a sociedade americana, que não
é um todo uniforme e tem as suas especificidades, as coisas estão longe de se
passarem da mesma maneira.
Os E. U. e as
restantes Américas, foram feitas por emigrantes, dezenas de milhões de europeus,
que ali apostaram, entre o fim das guerras napoleónicas e a Grande Guerra de
1914/18.
Emigrantes, constituídos
inicialmente por famílias de europeus cristãos, trabalhadores, cheios de
esperanças e de vontade de vencer que pouco ou nada tinham a ver com os
emigrantes de hoje, tantas vezes controlados por máfias criminosas de
passadores e explorada por empresários sem escrúpulos, que alimentam o sistema
dos ilegais que lhes baixam os custos do trabalho.
Os avós paternos de Trump,
eram emigrantes alemães e o pai inspirou-o a entrar no negócio do imobiliário. O
seu discurso é eficaz porque fala de fronteiras e estas contam para a
identidade política, para a soberania e segurança do país.
Logo, de madrugada,
em Lisboa, vamos ouvi-lo falar de “lugares comuns” que têm exactamente a ver
com este tipo de preocupações que todos entendem muito facilmente: - segurança, do
país e dos americanos, contra os seus vizinhos e o mundo...
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