quinta-feira, setembro 22, 2016

Mexericos
Mexericos






















Ninguém fala a sério nas conversas de Café porque, na verdade, o que nós gostamos mesmo, é de mexericos: falar dos outros, da vida deles, tomar partido por “este” contra “aquele”...

Li, em tempos, um estudo sobre este assunto, que meteu uma pesquisa que concluiu que mais de 90% das conversas entre as pessoas, era mesmo só de mexericos.

Conversas privadas com amigos e conhecidos, mais ou menos chegados, às vezes mesmo nada, todos servem para satisfazer esta necessidade visceral tão importante, quase, como o comer e respirar.

Sentimo-nos bem a “mexericar”, ao sabor das nossas simpatias e antipatias, dos nossos ódios de estimação ou dos amores do nosso coração...

Por isso, é que as grandes cidades, onde ninguém se conhece, são frias, distantes, anónimas, contra-natura, fazem-nos infelizes porque os mexericos alimentam-nos a vida e nenhum outro animal é tão social como nós.

Lá diz o povo que “é a falar que a gente se entende” e outros que chegam mesmo a afirmar que se “não falam rebentam” e, finalmente, um resíduo daquelas e daqueles outros que lhe tomaram o gosto e nunca mais se calam...

Foi esta comunicabilidade que nos fez progredir no caminho da humanidade. Começámos por dizer coisas sérias, imprescindíveis à vida, tomámos-lhe o gosto, desenvolvemos a conversa e acabámos com intrigas e mexericos.

Hoje, fazemo-lo à mesa do Café e saímos reconfortados, mas o José António Saraiva, jornalista, sobrinho do Prof. Hermano Saraiva, já falecido, que chefiou a minha viagem de fim de Curso a Angola, em 1960, que tão boas recordações me deixou, resolveu escreve-los um livro e infringiu uma regra sagrada do mexerico:

- Os mexericos são privados, às vezes até ditos ao ouvido de quem os ouve, à boca calada, como se costuma dizer, pois, José António Saraiva, sabendo da apetência que todos sentimos pelos mexericos, resolveu, vejam lá, publicá-los em livro... Parece que precisava de dinheiro...

Naturalmente, retirando-lhe a privacidade, o mexerico deixou de o ser e passou a uma inconfidência tornada pública, chocante e repugnante por isso.

A sensibilidade é fundamental e imprescindível no relacionamento entre as pessoas mas, de um jornalista para com o seu público, é vital e a sua completa ausência gera o repúdio.

Passos Coelho, que não sabe bem o que fazer desde que perdeu o poder para a geringonça, aceitou presidir à cerimónia de apresentação desse livro sem saber o que lá estava escrito... Depois, chamado à atenção por correligionários e adversários, começou por não voltar atrás porque era homem de uma só palavra mas, percebendo que a emenda era pior que o soneto, voltou mesmo atrás e desinteressou-se do assunto.

A quem não o conhecesse bem ficou a conhecê-lo melhor...  

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