Mexericos |
Mexericos
Ninguém fala a sério nas conversas de Café porque, na verdade, o que nós gostamos mesmo, é de mexericos: falar dos outros, da vida deles, tomar partido por “este” contra “aquele”...
Li, em tempos, um estudo sobre este assunto, que meteu uma pesqui sa que concluiu que mais de 90% das conversas
entre as pessoas, era mesmo só de mexericos.
Conversas privadas com amigos e conhecidos, mais ou menos
chegados, às vezes mesmo nada, todos servem para satisfazer esta necessidade
visceral tão importante, quase, como o comer e respirar.
Sentimo-nos bem a “mexericar”, ao sabor das nossas simpatias e
antipatias, dos nossos ódios de estimação ou dos amores do nosso coração...
Por isso, é que as grandes cidades, onde ninguém se conhece, são
frias, distantes, anónimas, contra-natura, fazem-nos infelizes porque os
mexericos alimentam-nos a vida e nenhum outro animal é tão social como nós.
Lá diz o povo que “é a falar que a gente se entende” e outros
que chegam mesmo a afirmar que se “não falam rebentam” e, finalmente, um resíduo
daquelas e daqueles outros que lhe tomaram o gosto e nunca mais se calam...
Foi esta comunicabilidade que nos fez progredir no caminho da
humanidade. Começámos por dizer coisas sérias, imprescindíveis à vida, tomámos-lhe
o gosto, desenvolvemos a conversa e acabámos com intrigas e mexericos.
Hoje, fazemo-lo à mesa do Café e saímos reconfortados,
mas o José António Saraiva, jornalista, sobrinho do Prof. Hermano Saraiva, já
falecido, que chefiou a minha viagem de fim de Curso a Angola, em 1960, que tão
boas recordações me deixou, resolveu escreve-los um livro e infringiu uma regra sagrada
do mexerico:
- Os mexericos são privados, às vezes até ditos ao ouvido de quem os
ouve, à boca calada, como se costuma dizer, pois, José António Saraiva, sabendo da apetência que todos sentimos pelos
mexericos, resolveu, vejam lá, publicá-los em livro... Parece que precisava de dinheiro...
Naturalmente, retirando-lhe a privacidade, o mexerico deixou de
o ser e passou a uma inconfidência tornada pública, chocante e repugnante por
isso.
A sensibilidade é fundamental e imprescindível no relacionamento
entre as pessoas mas, de um jornalista para com o seu público, é vital e a sua
completa ausência gera o repúdio.
Passos Coelho, que
não sabe bem o que fazer desde que perdeu o poder para a geringonça, aceitou
presidir à cerimónia de apresentação desse livro sem saber o que lá estava
escrito... Depois, chamado à atenção por correligionários e adversários,
começou por não voltar atrás porque era homem de uma só palavra mas, percebendo
que a emenda era pior que o soneto, voltou mesmo atrás e desinteressou-se do
assunto.
A quem não o
conhecesse bem ficou a conhecê-lo melhor...
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