O DRAMA
DA MORTE
Era inevitável que sendo o homem um ser intelectualmente tão
evoluído e sensível, no mínimo, não fizesse da morte um drama... compreende-se!
Conciliar o pensamento e a reflexão sobre a vida com um simples
ponto final ao qual nada mais se segue parece-nos algo tão brutal e falho de
lógica que a reacção, em termos de desespero, é sempre a mesma:
-“Tem de haver mais qualquer coisa”…
Alguns vivem fascinados e frustrados perante a morte porque
não conseguem vislumbrar o que está para além dela e esta é a diferença entre
os homens bem pensantes que ainda cogitam sobre a morte e aqueles que, hoje em
dia, se limitam a viver preocupados em resolver os problemas do dia a dia
continuando a pensar sobre a morte aqui lo
que os seus pais e avós sempre pensaram, “soprado” pelas religiões que também
herdaram e que é uma forma de não pensarem.
A morte não é um desafio fácil de aceitar e abordá-lo é sempre
um acto de coragem porque, diga-se sobre ela o que dissermos, a sensação que no
fundo, lá bem no fundo, nos fica é que tudo quanto sobre ela se diga é pura
especulação tendo mais a ver com a vida do que com a morte, a vida que
desejaríamos nunca acabasse mesmo que, para isso, tenhamos que “criar” outros
mundos e outras formas de vida.
Como se todos os seres vivos fossem dignos de morrer except o o homem por não fazer sentido que a natureza o
tenha feito evoluir para uma forma qualitativamente tão diferente e perfeita e
reservar-lhe, no fim, exactamente o mesmo destino!...
Esta necessidade de prolongarmos a vida para além da morte,
porque é desta necessidade que se trata, foi ao longo da história da humanidade
o factor mais determinante e influente da própria vida do homem e das sociedades.
Vivemos sempre condicionados por aqui lo
que esperamos que nos venha a acontecer após a morte, e as religiões, todas elas, souberam muito bem tirar partido desses condicionalismos.
Quando deixarmos de amar a Deus e em vez dele amarmos, no
sentido de respeitar, a natureza, os outros homens e os restantes seres vivos
que connosco partilham a vida na Terra, talvez então aceitemos melhor o nosso
fim em pé de igualdade com as restantes formas de vida.
Somos, de facto, especiais, tivemos que o ser para sobreviver na
luta que travámos para termos direito a um lugar ao sol, mas continuamos
sujeitos às leis fundamentais do Universo e desaparecer para sempre sem outras
consequências que não sejam as transformações químicas que se operam a partir
do momento da última batida do coração, é uma dessas leis.
Outra atitude que não seja esta, para além de representar uma
veleidade que não nos fica bem, constitui, igualmente, uma enorme contradição
para a nossa mente dada a dificuldade em conciliar o racional com as expectativas
da fé.
Por isso, a Filosofia que alguns afirmam, entre outras coisas,
ser um curso geral para a morte, talvez pudesse com mais vantagem, constituir
um curso geral para a vida que nos ensinasse que todas as nossas energias devem
ser canalizadas para a satisfação da responsabilidade do que significa estar
vivo.
Responsabilidade connosco próprios, com o nosso semelhante e
para com o planeta que é a casa onde vivemos, não em nome de, ou para agradar
ou recear a um Deus qualquer que nos espera após a morte para nos castigar ou
premiar mas porque, neste momento, está já suficientemente instalada uma
espécie de moral universal que aponta no sentido de que a nossa própria
sobrevivência como espécie não é possível salvaguardar se não olharmos a vida
como a nossa oportunidade de manter os equi líbrios
entre nós, homens, e a natureza que nos suporta.
E para isso não é a nossa morte que nos deve preocupar mas antes
as gerações vindouras que reivindicam, também elas, o direito à vida para
poderem morrer como nós.
Sinceramente, julgo que estamos, neste aspecto, numa
encruzilhada terrível porque temos a consciência de que a estamos a viver mas
não temos a certeza de qual o caminho que vai ser percorrido.
O planeta como que estremece e agita, também ele parece inqui eto quando o forçam a uma evolução mais rápida do
que aquela que, naturalmente, se processaria não fosse a nossa interferência.
Para ele, planeta, é indiferente, mas para as formas de vida que
suporta pode ser um abreviar das suas existências e por isso ele manda os seus
avisos, alerta os homens, os únicos que os sabem interpretar e… aguarda.
Os fenómenos da natureza são o resultado de múltiplos equi líbrios que se estabelecem e restabelecem
contínua, lenta, mas inexoravelmente.
A velocidade a que esses equi líbrios
e reequi líbrios acontecem é a chave
que facilita, dificulta ou impossibilita mesmo a sobrevivência das espécies
através dos fenómenos de adapt ação
já explicados por Charles Darwin na sua Teoria da Evolução.
E é aqui que há
verdadeiras razões para falar da morte que dizima e pode levar ao
desaparecimento das espécies e não a morte natural dos indivíduos dentro de
cada espécie indispensável, de resto, para a própria sobrevivência da espécie.
Será que a velocidade a que desaparece a massa de gelo do pólo
Norte vai dar alguma hipótese de sobrevivência ao urso polar?
E o que irá acontecer aos milhões e milhões de pessoas que vivem
à beira mar se a água dos Oceanos começar a subir a um ritmo que não permita a
sua reinstalação noutras áreas com tempo para se adapt arem
e aprenderem a fazer outras coisas?
E se alterações do clima, de repente, puserem em causa a
produção de arroz no continente asiático como vão sobreviver os biliões de
pessoas que dependem dele para se alimentarem?
E agora, sim, uma palavra para a fé, não em Deus ou em deuses
mas a fé nos homens, de preferência em todos os homens, esclarecidos,
responsáveis, capazes de pensar e decidir para o futuro, exactamente aquele
futuro que neste momento parece tão ameaçado pelo egoísmo das actuais gerações.
Mais uma vez, como sempre, é nos homens, como não podia deixar de ser, que está, ou não, o
futuro da humanidade.
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