sábado, outubro 08, 2016

António

Guterres















Quando, ontem, com sentido irónico, chamei de “pequeno” a Portugal contrapondo-o à dimensão de certos portugueses, entre eles António Guterres, estava, afinal, a ir ao encontro do que a imprensa de fim-de-semana diria igualmente de Guterres: “é maior do que Portugal!”.

Esta afirmação prestigia Guterres, deixa-nos orgulhosos mas está longe de ser humilhante para o país porque, não tivesse ele a dimensão que tem, como homem, e nunca seria Secretário -  Geral da ONU.

Nesta vitória de Guterres houve muito trabalho das chancelarias. Ele próprio considerou que, à partida, não teria mais de 20% de possibilidades, mas o que não é menos verdade é que mesmo só com esses 20%, num país com a nossa dimensão e importância, apenas acontece uma vez na vida aparecer alguém que tenha as restantes 80%.

Foi uma sorte para nós que ele tivesse nascido português, embora a nacionalidade pareça ser um factor irrelevante dadas todas as restantes qualidades, reveladas, de resto, nas funções que exerceu durante 10 anos como Alto - Comissário da ONU para os Refugiados.

O país “apaga-se” perante ele, não por ser pequenino ou grande, mas porque depois de se ter dado a conhecer, como o fez em seis entrevistas e pelo trabalho anteriormente realizado, houvesse ele pudor e justiça e teria  sido o mundo a pedir-lhe para ser seu Secretário – Geral.

O voto de unanimidade e aclamação com que foi escolhido parecem ser esclarecedores do reconhecimento do seu valor.

Ontem falei da importância da nossa localização geográfica, do ar a maresia que respiramos, mas também da nossa história, do nosso passado mais recente com os seus bairros de lata e os seus analfabetos, da cultura, e procurei ligar António Guterres a tudo isso.

Talvez seja uma injustiça para ele mas eu não o concebo fora deste nosso país, nascido em Lisboa e educado nas Beiras, e embora seja um homem do mundo, que extravasou as fronteiras dentro das quais nasceu, tem a nossa marca de português, seja lá isso o que for, que o acompanhará sempre, sejam quais forem as funções e os cargos que desempenhe.

Não sabemos o que irá conseguir num mundo gerido por interesses tão grandes como o nosso mas, se alguém puder dar um contributo positivo, esse alguém é António Guterres.

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