quinta-feira, outubro 20, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio Nº 99




















Chamei o escudeiro que transportava as bandeiras, ordenando-lhe que içasse a branca. Logo que a viram muitos cavaleiros e soldados, de um lado e do outro, suspenderam as lutas, como mandavam as regras entre os cristãos.

Passando pelo meio deles, cavalguei em direcção a Tui e depressa me levaram à presença de Fernão Peres. Ao ver-me entrar pelo portão da muralha de Tui, o nobre galego abriu um sorriso cínico, mas não mostrou disposição para grandes conversas.

Aceitou a nossa rendição, prometeu deixar-nos embarcar sem nos atacar e dispensou-me sem mais demoras, o que me obrigou a perguntar por Gonçalo de Sousa.

O trava fingiu que não percebera, mas depois questionou-me, numa mímica de surpresa, que me irritou:

 - É costume os derrotados apresentarem exigências?

Aleguei que Gonçalo estava preso há quase um ano nas masmorras daquele castelo, cumprira já a pena que merecia, as leis da guerra entre cristãos mandavam libertá-lo.

Porém, o Trava apenas me apontou com o dedo indicador da mão direita, o caminho que eu deveria tomar para junto das minhas tropas.

- Quem decide tais coisas sou eu – declarou.

Vencido, a última pergunta que lhe lancei foi familiar. Quis saber se a minha cunhada estava bem, pois sua irmã Maria há muito tempo que não tinha notícias dela. Desta vez, o Trava limitou-se a afirmar.

 - Se Chamoa tivesse morrido todos vós teríeis sabido.

Naquele dia nem eu podia imaginar quanto a Chamoa sofrera durante aquele ataque, a forma maldosa como fora tratada pelo tio.



Tui, Março de 1134


Na véspera do nosso ataque, imperava em Tui um nervosismo agudo. Enquanto viam as tropas portucalenses instalarem-se na ínsua do rio Minho, os homens do Trava faziam contas às forças do inimigo, temendo-nos.

A vontade de vingança é um dos mais poderosos incentivos à batalha e os galegos sabiam que ela era vasta e profunda do nosso lado, por causa de Celmes.

Mesmo no seio da poderosa família galega também imperava a desconfiança, e Chamoa continuava vigiada em permanência pelo Velho, apesar dos veementes protestos de seu pai.

O desamparado gomes Nunes que há décadas era proprietário do Condado de Toronho, adaptara o seu carácter à teia que sempre o cercara.


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