(Domingos Amaral)
Episódio Nº 99
Chamei o escudeiro que
transportava as bandeiras, ordenando-lhe que içasse a branca. Logo que a viram
muitos cavaleiros e soldados, de um lado e do outro, suspenderam as lutas, como
mandavam as regras entre os cristãos.
Passando pelo meio deles,
cavalguei em direcção a Tui e depressa me levaram à presença de Fernão Peres.
Ao ver-me entrar pelo portão da muralha de Tui, o nobre galego abriu um sorriso
cínico, mas não mostrou disposição para grandes conversas.
Aceitou a nossa rendição,
prometeu deixar-nos embarcar sem nos atacar e dispensou-me sem mais demoras, o
que me obrigou a perguntar por Gonçalo de Sousa.
O trava fingiu que não
percebera, mas depois questionou-me, numa mímica de surpresa, que me irritou:
- É costume os derrotados apresentarem
exigências?
Aleguei que Gonçalo estava
preso há quase um ano nas masmorras daquele castelo, cumprira já a pena que
merecia, as leis da guerra entre cristãos mandavam libertá-lo.
Porém, o Trava apenas me
apontou com o dedo indicador da mão direita, o caminho que eu deveria tomar
para junto das minhas tropas.
- Quem decide tais coisas
sou eu – declarou.
Vencido, a última pergunta
que lhe lancei foi familiar. Quis saber se a minha cunhada estava bem, pois sua
irmã Maria há muito tempo que não tinha notícias dela. Desta vez, o Trava
limitou-se a afirmar.
- Se Chamoa tivesse morrido todos vós teríeis
sabido.
Naquele dia nem eu podia
imaginar quanto a Chamoa sofrera durante aquele ataque, a forma maldosa como
fora tratada pelo tio.
Tui, Março de 1134
Na véspera do nosso ataque,
imperava em Tui um nervosismo agudo. Enquanto viam as tropas portucalenses
instalarem-se na ínsua do rio Minho, os homens do Trava faziam contas às forças
do inimigo, temendo-nos.
A vontade de vingança é um
dos mais poderosos incentivos à batalha e os galegos sabiam que ela era vasta e
profunda do nosso lado, por causa de Celmes.
Mesmo no seio da poderosa
família galega também imperava a desconfiança, e Chamoa continuava vigiada em
permanência pelo Velho, apesar dos veementes protestos de seu pai.
O desamparado gomes Nunes
que há décadas era proprietário do Condado de Toronho, adapt ara o seu carácter à teia que sempre o cercara.
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