(Domingos Amaral)
Episódio Nº 105
O eco desta violenta frase
de Elvira Peres de Trava assombrou a parte inicial da viagem daquela pequena
comitiva formada por Pêro Pais, Gonçalo de Sousa e Chamoa.
Só ao final do dia, quando
pararam para pernoitar é que Gonçalo de Sousa se aproximou do desconfiado Pêro
Pais, dizendo-lhe que não ligasse aos ditos infames da avó, que faria tudo para
impedir um casamento entre Chamoa e Afonso Henriques.
A língua das mulheres é mais
perigosa do que as nossas espadas.
Incapaz ainda de avaliar tão
judiciais ditos, o rapaz só se interessou quando Gonçalo lhe pediu que descrevesse
a batalha de Tui.
A dado momento, Pêro Pais
referiu que o cavalo asturiano do príncipe se recusou a continuar, o que levou
Gonçalo a exclamar.
- Foda-se, que besta mais idiota!
O petiz riu-se mas Chamoa
avisou o nosso amigo que não falasse assim e pouco depois levou o filho para o
quarto de hóspedes onde se tinham instalado.
Na manhã seguinte e pelo
caminho, Gonçalo soltou mais palavrões e todos galhofaram, especialmente quando
passaram por braga, onde o nosso amigo os alertou de que não visitassem o
arcebispo Paio Mendes.
Se vos vê, esse velho
insuportável vai mandar-vos dar duas voltas à Sé de Braga, ajoelhados e em
penitência!
Depois de tanto tempo
fechados naquele buraco em Tui, o espírito folgazão do nosso amigo estava a
regressar e eu fui o primeiro a senti-lo quando a pequena comitiva chegou a
Guimarães.
- Então, tudo espeta? -
perguntou Gonçalo.
Abraçamo-nos e
congratulei-me com a sua libertação, tal como Maria Gomes, meu pai e Teresa de
Celanova, aliás os únicos presentes, pois Afonso Henriques na ânsia de esquecer
as derrotas no norte, partira para o sul com Peres Cativo e meu tio Ermígio.
Embora decepcionada com a
ausência do seu amado, a minha cunhada ficou feliz por rever a irmã e conhecer
os nossos dois filhos mas enxofrou-se de imediato quando soube que Elvira
Gualter, a normanda, esperava outra criança de Afonso Henriques.
Como é que ela emprenha tão depressa?
Ao vê-la em tal perturbação,
Teresa de Celanova inqui riu-a:
- Continuais a amar o príncipe?
Chamoa confessou que assim
era, por causa disso há mais de dois anos não dormia com homem algum.
Já esqueci, já esqueci!
Depois relatou a sua prisão
na masmorra e a ameaça mortal do Trava, narrativa que Gonçalo confirmou com um
aceno de cabeça, mas tentou prontamente ignorar, ao perguntar-me curioso:
- E a minha Zaida, onde está?
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