(Na minha cidade de Santarém em 16/10/16)
Eu e o Outro
A Europa vai receber centenas de milhar de pessoas oriundas de
países do norte de África, nomeadamente da Síria, fugidos, em desespero, de um
senhor chamado Al-Baghdadi que é o líder do Estado Islâmico que ultrapassou em
maldade, a Al-Kaeda, instalando a tirania e o terror entre as populações
apelando aos instintos mais bárbaros, radicais e primários da espécie humana.
Essas pessoas não são iguais a nós e peço desculpa por dizer
isto assim, desta maneira, mas, ao contrário do que se possa pensar, ela é um
bom ponto de partida para uma boa relação futura.
A cultura, constituída por hábitos alimentares, comportamentos
sociais, religiosos, familiares, etc... marca diferenças entre os povos.
E teve que ser assim, não por sermos diferentes na origem, mas
porque cada povo teve de se adapt ar
a condicionalismos diferentes para sobreviver.
A este respeito, lembro-me sempre do exemplo que um professor
meu dava aos seus alunos relativamente ao que era raça e cultura.
Na década de vinte, um diplomata importante dos E.U.A., em
serviço na China, faleceu com a esposa num desastre de viação deixando órfão um
filho ainda jovem que foi adopt ado
por um casal chinês, íntimo do falecido, que o educou nas melhores normas da
cultura chinesa.
Chegado aos vinte anos, o jovem, alto, atlético de olhos azuis e
cabelo alourado, foi enviado à América pelos pais adopt ivos
que entenderam que ele devia conhecer o país dos seus pais e parentes
afastados.
Poucas semanas decorridas, ele estava de volta afirmando que se
sentia chinês e não se entendia com os americanos e a sua estranha maneira de
viver.
Estas diferenças, tanto podem enriquecer a relação como
envenená-la senão as respeitarmos como sendo coisas dos outros, do seu
património.
- “Como é possível, passe o exagero, eu dar-me com alguém que
não gosta de farinheira?...”
Os meus amigos sabem, com certeza, que se não fossem estas
diferenças não nos deliciávamos hoje com as belas alheiras de Chaves, da
imaginação dos judeus que, não podendo comer carne de porco por motivos
religiosos, inventaram as alheiras que não levam a dita carne, obviamente, mas
emitam muito bem os chouriços pendurados nos fumeiros das chaminés evitando,
assim, ser hostilizados pelos vizinhos.
Então, esta “coisa” das religiões estabelece infelizmente
diferenças que são sentidas, profundamente, como barreiras e antagonismo que ao
longo dos tempos alimentaram guerras, mortes e violência, numa história triste
da qual ninguém sai bem quer sejam seguidores de Cristo ou de Maomé.
Vestir de maneira diferente, comer outras coisas ou repudiar
aquelas outras de que nós tanto gostamos, rezar ajoelhado de cabeça no chão e
rabo para o ar, virado na direcção de Meca, em vez de mãos postas, de cabeça
levantada e olhar posto na imagem de Cristo pregado numa cruz, tantas coisas
diferentes que nos parecem quase uma ofensa provocatória a despertar raiva e
ódio àqueles que gostam de alimentar a maldade que nos vai nos corações porque,
não nos iludamos, ela também lá está.
Nós, portugueses, sempre andámos pelo mundo e recentemente pelas
guerras de África que nos ensinaram a desmistificar muitas coisas a começar
pelos falsos e ilusórios patriotismos.
Durante séculos, aos portos da costa que hoje é o nosso
Portugal, sempre chegaram pessoas, diferentes das que aqui estavam,
para comerciar connosco.
Não obstante a globalização, que vai acontecendo, o mundo ainda
é grande e variado e os portugueses sabem que há muitos “outros” com os quais
se têm cruzado ao longo da sua história e das suas vidas mas, em todos eles,
tal como em nós, existe um mesmo coração sedento de amor e de felicidade.
Nisso, somos todos iguais.
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