Gosto de velhos amigos, daqueles do tempo da juventude,
porque fazem parte das minhas memórias. Eles são, em grande parte, as
minhas próprias memórias e, se há coisa que me dê prazer é aquela do... – “lembras-te
quando...?
Vamos ficando cada vez mais velhos e a importância das memórias
é crescentes em nós, ocupando um lugar cada vez maior.
Encontro-me mensalmente com um amigo, velho colega do
Curso e da Guerra de Angola, uma camaradagem que durou desde 1958 a 1965 quando,
finalmente, desembarcámos no porto da Rocha de Conde de Óbidos, em Lisboa, as
vidas se separaram e cada um foi à sua... mas, então, o “mal já estava feito"...!
Finalmente, depois de uma vida, reencontrámo-nos e agora,
não vá o diabo tecê-las, vemo-nos todos os meses à mesa do Café, no Rossio,
antes de almoçarmos com outros colegas que, na verdade, a maior parte, fazem de
cenário.
Sentados na mesma mesa nem é preciso falar, não me refiro
ao presente, estou a pensar no passado, de cujas memórias não consigo apagar a
primeira imagem que guardo dele, recém -chegado da cidade da Beira, em
Moçambique para continuar os estudos em Lisboa, o que fez de forma competente
que eu, na qualidade de colega, mesmo desatento, sempre fiz questão de lho
atirar à cara pois, parecia-me, que, de envergonhado, se encolhia nos exames orais.
De gabardine verde escura, muito comprida, como se usava
no fim da década de 50, e de chapéu-de- chuva de cabo comprido, tipo bengala,
que eu não usava porque logo os perdia, bem encostadinho à parede, com ar tímido, eu era lisboeta, caminhando ao longo da Rua da Escola Politécnica, na direcção do
nosso Instituto, no Largo do Príncipe Real... assim recordo de o ver pela primeira
vez.
Memórias, às quais, depois, se juntaram as da Guerra de
Angola que também fizemos juntos, para além dos Cursos de Preparação Militar.
Memórias, memórias... Sentamo-nos à mesa do Café e lá estão
elas, as memórias, a falarem por si, especialmente quando estamos calados...
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