sábado, dezembro 03, 2016

O RISO


















Superficialmente, o riso, tal como o suicídio, a homossexualidade, a adopção e a arte, parece difícil de explicar numa perspectiva evolutiva.

Porque fazemos nós estas coisas quando elas parecem supérfluas ou mesmo prejudiciais para a nossa sobrevivência e reprodução?

Porém, pensando melhor e lendo a esse respeito o trabalho de um especialista, o riso é tudo menos supérfluo.

Vejamos, coisas que toda a gente sabe: todas elas são capazes de rir à excepção de algumas que, tragicamente, sofrem de deficiência mental grave.

Os bebés começam a rir entre os dois e os quatro meses e eu nunca poderei esquecer as maravilhosas gargalhadas das minhas netas quando eram bebés que, tal como os outros, começaram a rir muito antes de falarem.

Mesmo os bebés que sofrem de surdez e cegueira congénita riem pelo que ver e ouvir o riso dos outros não é necessário.

Rir é essencialmente um fenómeno social. Sabemos isso por experiência própria, mas os estudos mostram que a probabilidade de rirmos na companhia de outros é trinta vezes superior à de rirmos sozinhos.

O riso é facilmente reconhecível, apesar das variações individuais e culturais. Rir é contagiante; o simples som dá-nos vontade de rir. Finalmente, rir é agradável. Põe-nos de bom humor e faz-nos agir de uma forma diferente.

Se alguma coisa se pode considerar uma capacidade geneticamente inata que exige uma explicação evolutiva é o riso.

Há dois mil anos que o riso é estudado e observado por Aristóteles e Darwin, entre outros.

Nos bebés o riso pode ser provocado por cócegas e nos adultos por anedotas. O riso irrompe espontaneamente mas também é usado de forma estratégica.

Pode ser usado para invocar bons sentimentos ou como um instrumento de agressão.

Terão fenómenos tão diversos uma explicação única?

Com o estudo dos primatas aprendeu-se que os nossos parentes símios se envolvem em jogos de cócegas e perseguições acompanhados por uma expressão facial e um som ofegante muito semelhante ao riso humano.

Assim, o riso humano tem um precursor nítido nos símios que ocorre durante as interacções de pares quando brincam e isto contrasta com a linguagem humana, que não tem precursores óbvios nos macacos.

A neurologista Matt aprendeu que há dois tipos de riso diferente. O riso Duchenne que constitui a reacção espontânea e carregada de emoção às brincadeiras nas crianças e às situações que despertam humor nos adultos, como as anedotas, os trocadilhos e as peripécias de uma comédia, que partilham todas as características da incongruência e do inesperado.

As cócegas, as perseguições e o súbito aparecimento de um rosto podem provocar nas crianças o riso ou o medo, consoante a maneira como forem interpretados.

Escorregar numa casca de banana é divertido a menos que a pessoa se magoe.

O encanto do riso de uma criança pode constituir uma estratégia do processo evolutivo no sentido de os proteger contribuindo para que os adultos gostem dele...  


David Sloan Wilson - "A Evolução para Todos"

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