Superficialmente, o riso, tal como o suicídio, a
homossexualidade, a adopção e a arte, parece difícil de explicar numa
perspectiva evolutiva.
Porque fazemos nós estas coisas quando elas parecem supérfluas
ou mesmo prejudiciais para a nossa sobrevivência e reprodução?
Porém, pensando melhor e lendo a esse respeito o trabalho de um
especialista, o riso é tudo menos supérfluo.
Vejamos, coisas que toda a gente sabe: todas elas são capazes de
rir à excepção de algumas que, tragicamente, sofrem de deficiência mental
grave.
Os bebés começam a rir entre os dois e os quatro meses e eu
nunca poderei esquecer as maravilhosas gargalhadas das minhas netas quando eram
bebés que, tal como os outros, começaram a rir muito antes de falarem.
Mesmo os bebés que sofrem de surdez e cegueira congénita riem pelo
que ver e ouvir o riso dos outros não é necessário.
Rir é essencialmente um fenómeno social. Sabemos isso por
experiência própria, mas os estudos mostram que a probabilidade de rirmos na
companhia de outros é trinta vezes superior à de rirmos sozinhos.
O riso é facilmente reconhecível, apesar das variações
individuais e culturais. Rir é contagiante; o simples som dá-nos vontade de
rir. Finalmente, rir é agradável. Põe-nos de bom humor e faz-nos agir de uma
forma diferente.
Se alguma coisa se pode considerar uma capacidade geneticamente
inata que exige uma explicação evolutiva é o riso.
Há dois mil anos que o riso é estudado e observado por
Aristóteles e Darwin, entre outros.
Nos bebés o riso pode ser provocado por cócegas e nos adultos
por anedotas. O riso irrompe espontaneamente mas também é usado de forma
estratégica.
Pode ser usado para invocar bons sentimentos ou como um
instrumento de agressão.
Terão fenómenos tão diversos uma explicação única?
Com o estudo dos primatas aprendeu-se que os nossos parentes
símios se envolvem em jogos de cócegas e perseguições acompanhados por uma
expressão facial e um som ofegante muito semelhante ao riso humano.
Assim, o riso humano tem um precursor nítido nos símios que
ocorre durante as interacções de pares quando brincam e isto contrasta com a
linguagem humana, que não tem precursores óbvios nos macacos.
A neurologista Matt aprendeu que há dois tipos de riso
diferente. O riso Duchenne que constitui a reacção espontânea e carregada de
emoção às brincadeiras nas crianças e às situações que despertam humor nos
adultos, como as anedotas, os trocadilhos e as peripécias de uma comédia, que
partilham todas as características da incongruência e do inesperado.
As cócegas, as perseguições e o súbito aparecimento de um rosto
podem provocar nas crianças o riso ou o medo, consoante a maneira como forem
interpretados.
Escorregar numa casca de banana é divertido a menos que a pessoa
se magoe.
O encanto do riso de uma criança pode constituir
uma estratégia do processo evolutivo no sentido de os proteger contribuindo
para que os adultos gostem dele...
David Sloan Wilson -
"A Evolução para Todos"
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