segunda-feira, janeiro 16, 2017

O meu futuro...



















Hoje de manhã, antes de sair de casa para tomar o meu pequeno-almoço, eu digo pequeno mas aquela meia torrada em pão caseiro com o “abatanado pingado” sabem-me tão bem que ousaria chamar-lhe, com mais propriedade, de “o grande almoço”, tocaram-me à porta.

- O senhor sabe qual é o futuro? – perguntou-me uma senhora, provavelmente ligada às “Testemunhas de Jeová”.

- Não sei, minha senhora, nem quero saber. Muito bom-dia e passe bem.

Estava terminada a conversa do futuro.

Claro que ela queria aproveitar-se da minha confessada ignorância do futuro para me “vender” o seu futuro e eu, delicadamente, despedi-a.

Que levará estas pessoas, a meio da manhã, a andarem de porta em porta a perguntarem se sabemos o futuro quando a resposta é daquelas que valem um "milhão" para quem a souber?...

Se estivesse mal disposto perguntar-lhe-ia se ela achava que se eu soubesse qual era o “futuro” lho ia dizer a ela... mas estas crenças das Testemunhas do Jeová são tão desconchavadas e estão de tal forma arreigadas, que desdizê-las é tão grave como concordar com elas. Mas que eu acredito no futuro, acredito...

Em finais de 1976 eu atravessava o pior “presente” da minha vida e foi nesse momento difícil que recebi a visita de um amigo que por acaso era vidente no sentido de que pressagiava o futuro, e que eu tinha conhecido em Moçambique.

Nunca acreditei nos futuros adivinhados por outras pessoas e por isso, mesmo desabafando com ele na qualidade de amigo, não me lembrei sequer de lhe pedir que se socorresse das suas faculdades paranormais para me dar uma palavra de ânimo mas ele, com algum pudor, atreveu-se, talvez pela angústia do meu estado de alma que era bem patente, pedir-me que lhe mostrasse a palma da mão e olhando para ela, com palavras calmas, descansou-me relativamente à minha vida futura. E assim foi, cerca de três meses depois daquela conversa, retomei o meu trabalho como funcionário público e tudo foi regressando à sua normalidade.

Como dizem os “nuestros hermanos”: “eu não acredito em bruxas mas lá que as há, há!...”

Nunca mais voltei a ver o meu amigo Salva que tendo chegado de Moçambique de visita a Portugal em 1976, tal mensageiro dos deuses, me procurou com tenacidade tendo-me desencantado numa casa que me tinha sido cedida por amizade do seu proprietário, num monte alentejano, no concelho de Abrantes, junto à aldeia dos meus avós, para me dar duas “notícias”: a primeira, que tinha brigado numa esplanada da cidade da Beira para defender a minha honestidade como funcionário público e a segunda, a que eu mais precisava de ouvir, foi de esperança no meu futuro.

Amigo Salva, se ainda fores vivo, ao fim de todos estes anos, quero que saibas que enquanto por cá andar estar-te-ei sempre grato.

Site Meter