(Episódio Nº 6)
A vizinha não respondeu. Antes, retrucou assim:
- Bom, se
lhe custa, então, não me conte uns sonhos...
Mas eu que nunca me lembro dos sonhos que me
visitam enquanto durmo! É que temos horários diferentes: eu e o sonho.
E aviso:
- Hão-de
ser sonhos falsificados...
- Não importa.
E teimei. Até porque trás má sorte recordar quem
nos visitou durante o sono. Assim, eu iria dar umas demãos de invenção nos meus
relatos. Quando não somos nós a inventar o sonho é ele que nos inventa a nós.
- Não faz
mal Zeca Perpétuo. Eu até podia pagar para alguém me contar os sonhos.
Riu-se, em esboço. Mas esta era só
tristeza molhada. Depois deixei minha vizinha em seu assento e fui regressando,
em passo lento, a minha casa. Luarmina se entranhou na sua pequena mania, como se
descosturasse um pano nenhum:
- Mar me
quer, bem me quer...
Este era o cantochão de Luarmina, o infindo
rameramejar dela. Todos fins de tarde, a mulata fica sentada num degrau da
varanda e vai desfolhando infinitas flores.
Ao fim de um tempo, todo o pátio está forrado a
pétalas, o chão espantado a mil cores.
Segundo Capítulo
Lançamos o barco, sonhamos a viagem. Quem viaja é sempre o mar.
(Dito do meu avô Celestino)
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home