segunda-feira, setembro 11, 2017

morte com pés de veludo....
A Propósito do


 Subsídio

 do 


Desemprego










Na qualidade de reformado do Estado considero-me um privilegiado. Sempre tive um ordenado certo ao fim do mês e ainda que modesto permitiu-me viver com dignidade, direi mesmo com à vontade, porque sempre fui poupado nos gastos.

Nunca passei pela angústia de esperar por um ordenado que não vinha ou por um emprego em risco de o perder e, pior, por um emprego perdido.

Grande parte da minha vida activa aconteceu em situações muito aceitáveis quanto os níveis de desemprego, eram da ordem dos 4 a 5%, valores que hoje corresponderiam a pleno emprego.

Recordando coisas do meu passado, creio que, ainda na década de 80, fui de excursão a alguns países da Europa, entre eles a Alemanha, região de Munique, onde tivemos como guia uma senhora, instruída, que falava muito razoavelmente o português (não é fácil para um alemão) e que, tal como eu, também trabalhava na área do emprego.

Perguntei-lhe se os trabalhadores alemães desempregados a receberem o subsídio de desemprego tinham dificuldades de vida nessa situação.

Que não, o subsídio que recebiam era suficiente para atender às suas necessidades normais, do dia a dia, mas, num aspecto, eles eram gravemente atingidos: no seu orgulho!

Verem o vizinho, de manhã, sair de casa para o trabalho e ele ficar inactivo a viver à custa dos descontos que iriam recair sobre o ordenado do outro (princípio da solidariedade), representava uma situação humilhante.

Lembrei-me, então, de muitos trabalhadores do meu país que na situação de desempregados procuravam acumular o subsídio de desemprego com os ganhos em outros “biscates” ou, simplesmente, tentar esgotar o subsídio até à última prestação numa atitude calculista e passiva.

Retenho ainda na memória um grupo de mulheres que trabalhavam no campo por conta de outrem, no Ribatejo, mas que ao fim de seis meses de descontos apareciam no Serviço para requererem o subsídio a que passavam a ter direito, nesse próprio dia, sem nunca falharem.

Realidades diferentes: alemães e portugueses. Contextos históricos diferentes deram lugar a povos diferentes.

Os portugueses, para sobreviverem, tiveram muitas vezes ao longo da sua história, de recorrerem ao expediente, às manhas e artimanhas, ao engano, à simulação, ao chamado “desenrascanso”. Saíram do seu país, para o Brasil, para África, para a Índia, para todo o mundo. Para fugir da fome, atiraram-se à aventura, uns foram heróis, outros santos, a maioria anónimos corajosos na sua humildade sujeitos à sorte de destinos incertos.

Já em minha vida, encontrei alguns, no princípio dos anos sessenta, nos confins de Angola, isolados, comprando e vendendo, mais propriamente, trocando produtos com as populações locais, em situações impensáveis para qualquer alemão.

No século XXI, eles continuam ainda ligados às suas raízes, tentando enganar o Estado que no passado os abandonou, nunca tendo querido preocupar-se com eles.

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