segunda-feira, novembro 13, 2017

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A minha avó


pequenina








Depois dos cavalos de alta-escola, aqueles que fazem o “piafé”, ladeiam e dão saltos acrobáticos sem saírem do mesmo sítio, - estou a recordar um totalmente negro que vi pela última vez na televisão e que considero o animal mais perfeito e esbelto da natureza, - vem a mulher em segundo lugar com a desvantagem, quanto a esta, que uns anos passados depois da juventude, ganham rugas e cabelos brancos, algo que nunca vi nos cavalos. Estou-me a lembrar da Brigite Bardott que com os anos ficou simplesmente pavorosa e, no entanto, em jovem, foi das raparigas mais lindas da sua época.

Fico vidrado numa linda cara feminina e não devo ser só eu a gostar porque as revistas vendem imenso por trazerem nas capas as suas fotografias. Não é nenhuma afirmação machista mas, enquanto as rugas nos homens de idade lhes dão “glamour”, nas mulheres os anos nada lhes acrescentam excepção feita à minha avó paterna, pequenina, sempre de preto, feições impecáveis, plenas de dignidade.

Há pessoas que projectam uma imagem de si próprias que as protegem da velhice porque ela se sobrepõe aos anos e às rugas e nós só vemos essa imagem. Com a minha avó paterna aconteceu isso. Como todas as avós, envelheceu mas eu sempre e só lhe vi a imagem, a imagem da minha “avó pequenina” com o mesmo passinho andando de um lado para outro porque se esquecia sempre do que ia fazer.

Nunca me deu um beijo. Como mulher da aldeia, habituada à vida do campo, as ternuras passavam-lhe ao lado. Era fria e seca mas terno e sereno o seu olhar. Fui o seu primeiro neto mas isso não me valeu de nada no acesso aos mimos que não faziam parte do cardápio, para além das palavras calmas e olhar sereno, que mesmo sendo repreensões não passavam de avisos à navegação.

. “Julgas que não te vejo a “esfumaçares”aí em cima da oliveira? Espera que já vou dizer ao tê pai”...

– Nunca disse...

A minha outra avó, a mãe da minha mãe, era a antítese desta. Gorda, chegou a pesar 140 kg, era alegre e brincalhona. Pouco antes de morrer, o médico perguntou-lhe:

 - Dª Júlia, os dentes são seus? – São sim, Srº Dr., que já os paguei. Fazia graça mesmo à hora da morte...

Embora tivesse casa em Lisboa era da aldeia de Paio Pires que vivia, sendo dona do terreno onde veio mais tarde, a ser construída a Siderurgia Nacional. A porta da sua casa estava sempre aberta. Como era muito gorda custava-lhe levantar – se e assim, a casa da ti Júlia da Quarela estava sempre aberta para a vizinhança, especialmente a criançada.

Duas avós, duas mulheres que nada tinham em comum: uma não dava beijos nem brincava e a outra o oposto: brincava, contava anedotas e era beijoqueira...

Gostava delas igualmente. Recordá-las, é voltar a ser menino...


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