quarta-feira, setembro 30, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 71



















- Devem ter vindo para as justas de Domingo. São dos nossos, não os agastemos.

Contrariado o Braganção resmungou:

- Nunca somos bem tratados... Sois como vossa mãe, que nos atirou quase para fora da muralha!

Gonçalo referiu que também seu pai se sentiu desconsiderado.

- Pelo menos estais cá – murmurou o príncipe.

Irritado, o Braganção enxofrou-se:

 - Sabeis o que se diz? Paio Soares vai a Mordomo-Mor, o traidor!

E vosso pai, amigo Lourenço, será governador de Lamego!

Questionado sobre a aceitação de tais benesses, Afonso Henriques respondeu:

 - Já sabem ao que vão. É Fernão Peres que manda.

Perante tal evidencia, Gonçalo reforçou a ira da família Sousa:

 - É o Trava que meu pai abomina! Paio Soares e Egas só servirão para rabiscar documentos!

Zangado, o Braganção vociferou que o vinho nunca mais chegava!

O taberneiro justificou-se, com tanta clientela fora necessário deitar mais água nas pipas! Gonçalo exigiu-lhe também dados e toucinho, pois o dia santo já findara e estava esfomeado.

Mal chegaram os pedidos, e trincadas as primeiras fatias, o príncipe afirmou:

- O sonho de minha mãe é o mesmo de meu pai. Unir a Galiza e reinar nela. Era esse o pacto de meu pai com meu tio Raimundo.

À volta da mesa, todos conheciam o antigo acordo entre primos borgonheses, que nunca fora aceite nem pelo imperador, nem pela filha, Dona Urraca.

O Condado Portucalense jamais se unira em definitivo à Galiza, quimera que Dona Tereza desejava ressuscitar.

O Raimundes vai querer ser rei de tudo! - exclamou o Braganção. – E eu serei sempre o primeiro a levar com ele!

As terras de Bragança confinavam com a dos reis hispânicos daquele que em breve tomaria o nome de Afonso VII.

Agastado, o Braganção pegou nos dados, perguntando antes de os lançar:

 - Vossa mãe vai a Ricobayo prestar vassalagem a vosso primo. E vós?

O príncipe esperou o resultado dos dados e só depois afirmou.

 - O meu sonho é o mesmo de meus pais. Não me agrada continuar a ser governado por um Trava.

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