segunda-feira, novembro 07, 2005

Rescaldo eleitoral. Olhar em frente


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Este mail é especialmente dedicado ao nosso comum amigo Jorge Zambujo a quem ainda não enviei umas palavrinhas depois das eleições autárquicas e das minhas férias, porque, mesmo na situação de aposentado, férias são férias e as eleições autárquicas já lá vão e daqui a pouco teremos aí as Presidenciais. Entretanto, pelo caminho, recordámos os relógios das nossas infâncias e cada um de nós deu o seu contributo para o ressuscitar de memórias (sim, também eu arregaçava disfarçadamente a manga da camisola para se ver o relógio da nossa vaidade) inevitavelmente corroídas pelo decorrer dos anos e as preocupações da vida. É uma pena que não apelemos mais vezes às nossas recordações da juventude porque a emoção que sentimos ao fazê-lo revela bem quanto elas nos são queridas.

Passamos por essa fase na ânsia desenfreada de querermos ser homens, pessoas crescidas e para isso imitamo-lhes os tiques, os gestos, as poses, as palavras e só mais tarde, muito mais tarde, percebemos que essa fase de imitação, que permite todos os sonhos e “castelos”, é a verdadeira e decisiva fase da nossa vida, aquela pela qual, mais tarde, suspiramos É caso para dizermos que andamos com as vidas trocadas… quando, finalmente, entramos na vida “a sério”, na hipótese boa, instala-se a rotina e o stress e, na maioria dos casos, os problemas que nos consomem e atormentam… é o desvanecer dos sonhos e o ruir dos “castelos”. Não sei se esta fase onírica da vida é comum a todos as pessoas e se, ela própria, não faz parte da formação definitiva da nossa personalidade, de qualquer maneira, ela é a fase mais brilhante da nossa existência porque, mesmo quando as “coisas” são más ou muito más nessa fase, o capital de esperança no futuro lá está para assegurar que vale a pena ir à luta…e a impulsionar-nos para a vida.

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Das eleições autárquicas retirei eu, e penso que todos, uma lição que nunca tinha ocorrido em eleições anteriores e que, na minha opinião, demonstrou, paradoxalmente, mais uma das virtualidades da democracia e que consistiu em mostrar melhor quem nós somos…”diz-me quem escolhes, dir-te-ei quem és”. Nunca anteriormente, alguém oficialmente suspeito de ilegalidades, inclusive arguidos e fugidos à justiça, se tinham submetido ao voto popular aproveitando uma lacuna da lei, julgávamos nós, dispensável. Afinal, em vários concelhos em que pessoas nessa situação se candidataram, exceptuando um, o voto maioritário dos eleitores foi exactamente para esses candidatos. Reagiu um dizendo:” o povo não me quis julgar” sendo que outra foi ao ponto de afirmar:” mas que linda lição de democracia demos a este país”... É este o ponto em que estamos…e, não fossem as liberdades democráticas, nunca viríamos a sabê-lo comprovadamente.

Acólitos arruaceiros do actual Presidente da Câmara de Oeiras assobiaram a Drª Tereza Zambujo na sua cerimónia de posse como vereadora… e eu pergunto se ninguém, com responsabilidades, se sentiu envergonhado nesse momento.

Temos ainda um longo caminho a percorrer como comunidade respeitadora de princípios que têm a ver com a nossa atitude perante a lei, a ética, o civismo, a educação... resta saber se o estamos a percorrer…e se na direcção certa.

Bem, mas nem tudo é mau, choveu em Outubro e o Novembro começou, igualmente, com chuva e espera-se que continue a chover, mesmo que eu não possa ir jogar ténis como aconteceu nas três últimas 5ª feiras… por uma boa causa não me importo.

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