Os Políticos que temos
Os Políticos que Temos
É estranho, mas antes do 25 de Abril os políticos eram mais respeitados pelo povo, não só respeitados mas também admirados e reverenciados.
O regime de então tinha-se encarregue de os rodear de uma espécie de auréola de pessoas impolutas e como o Chefe do Governo era sempre o mesmo também eles continuavam nos seus cargos anos e anos seguidos porque, assegurada a fidelidade ao Grande Chefe, nenhuma outra razão haveria para que mudassem.
De um, lembro-me eu, julgo que era das Corporações, esteve lá tantos anos que até julgava ter nascido Ministro e quando, finalmente, deixou de o ser, teve que recorrer a uma Clínica Psiquiátrica para o ajudar a regressar à vida como uma pessoa normal ou seja, não ministro.
O culto que então se prestava à autoridade, da qual eles eram a sua expressão máxima, logo a seguir ao Grande Chefe, já se vê, punha-os ao abrigo de toda a crítica e censura porque eles personificavam o regime e este, tal como a religião, não se discutia nem se criticava porque além de ser proibido ainda era pecado.
Por esta razão, constava e dizia-se até, em surdina, que os comunistas e todos os que sendo do reviralho criticavam os políticos e o regime de então, estavam condenados às chamas eternas do inferno e por isso as pessoas mais velhas e mais chegadas à Igreja quando falavam deles era à boca pequena e de imediato se benziam.
Viviam, os ministros, dentro de uma espécie de casulo que os protegiam de olhares indiscretos e apenas o Grande Chefe era sabedor dos pecados que cometiam para uma eventual chamada de atenção ou até, quem sabe, algum puxão de orelhas.
Um regime moralista que vivia nas Graças do Senhor não podia desacreditar-se aos olhos da opinião pública por qualquer atentado à moral ou aos bons costumes praticado por um seu lídimo representante.
Por tudo isto o povo, temente a Deus, obediente na sua santa ignorância, respeitava e reverenciava os senhores ministros.
Depois, aconteceu o 25 de Abril e pelo país fora desabrocharam novos políticos, alguns deles desembarcados no cais de S. Apolónia e recebidos como autênticos heróis nacionais e o povo, alegre, esfusiante, associava-se porque aquilo era uma festa e o povo adora festas.
Mas agora era diferente porque as palavras de ordem eram liberdade e democracia, palavras novas há muito esquecidas e que depois de uma longa noite de silêncio de mais de 40 anos não se sabia bem o que fazer com elas.
E por isso a “festa” continuava nas fábricas, nos escritórios, nas ruas em enormes e constantes desfiles de contestações…
Grandes políticos como Álvaro Cunhal, Mário Soares, Francisco de Sá Carneiro e muitos outros, procuravam, através de discursos ideológicos, conduzir o povo, arregimentá-lo para os respectivos campos partidários mas a turbulência não tornava a tarefa fácil…
Infelizmente, a política parece fazer-se de promessas e para conseguir votos os políticos não conhecem caminho mais fácil.
Nas campanhas eleitorais não se pede aos cidadãos trabalho, rigor, disciplina, palavras proscritas na boca dos políticos. Não se oferece seriedade, competência, trabalho, sentido de responsabilidade. No seu lugar, promessas, eldorados, facilidades, aquilo que o povo gosta de ouvir mesmo quando é evidente que não têm consistência e não são sérias.
Desta forma, foram-se desacreditando ao longo dos anos e hoje até já se brinca com as promessas que cada político faz e depois não cumpre…e às vezes até é preferível não cumpri-las porque o disparate estava na promessa ( vidé referendo do Tratado de Lisboa).
A democracia partidária foi levada demasiado a sério no nosso país e caímos na partidarite com sacrifício da própria democracia.
Os partidos subdividiram-se em facções e transformaram-se em associações de interesse de grupos de pessoas que colaboram quando se trata da conquista dos votos e do poder para mais tarde cobrarem empregos parecendo, a Administração Pública e Autárquica, enormes coutadas de acesso priviligiado aos correligionários que integram as estruturas dos partidos e seus amigos.
Um candidato a chefe de governo chega mesmo ao ponto de defender que a intervenção de qualquer político na TV pública e mesmo privada, deve ser seguida de imediato pela intervenção de outro político, não só do partido da oposição mas, principalmente, da confiança do respectivo líder.
Eis a coutada disputada ao metro quadrado perante os aparvalhados coelhos que devemos ser nós!
Esta obsessão na disputa da influência que conduz ao poder assume aspectos caricatos e doentios e cada vez mais desperta descrença que se vai instalando nos cidadãos distanciando-os cada vez mais da política.
Brevemente, o problema da Regionalização irá de novo levantar-se depois de há quase uma década ter sido rejeitada claramente em Referendo.
Uma recente sondagem sobre este assunto continua a atribuir aos adeptos da Regionalização pouco mais de metade das respostas em sentido contrário.
Em teoria, a criação de Regiões Administrativas geridas por pessoas com o Poder que confere a legitimidade do voto e com uma relação de maior proximidade às terras e às gentes locais, poderia constituir um factor de dinamismo que promovesse um maior desenvolvimento dessas zonas numa solução, que, à partida, parece fazer sentido, quando, ainda por cima, os malefícios da concentração de poderes no Terreiro do Paço já fazem história neste país.
Mas o quê? Mais uma classe de políticos na disputa e exercício do poder? Nem pensar, diz Pacheco Pereira que conhecendo bem os partidos e os políticos é voz autorizada e não está só, a fazer fé nas sondagens, a maioria esmagadora dos portugueses está com ele.
E assim, uma ideia que até poderia ser vantajosa é precocemente “assassinada” pela má fama dos políticos antes, sequer, de poder ser testada na prática.
Resta-nos a esperança nos portugueses e se eles sobreviveram à ditadura mais facilmente irão ultrapassar os escolhos e sobressaltos da democracia.
Acreditar nos portugueses é acreditar na sociedade civil que, felizmente, não é apenas a pensão escandalosa do Paulo Teixeira Pinto, há muitos outros exemplos de verdadeiro sucesso entre nós mas porque não constituem escândalo não fazem vender jornais.
Quanto à política... já estivemos pior servidos.
José Sócrates e a sua equipa têm defeitos mas não tantos nem tão graves como a oposição e certos comentadores nos querem fazer crer.
Os portugueses têm que ter memória e desenvolver uma capacidade crítica serena, pensarem nas consequencias da globalização, olharem para a conjuntura internacional e perceberem como somos frágeis e dependentes e que dentro da estabilidade política é possível corrigir erros dos quais, o aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete e o referendo ao Tratado de Lisboa pela via da Assembleia da República, são bem exemplos disso.
E, já agora, estarem atentos à alternativa que se perfilha no horizonte, se continuar assim, lagarto… lagarto… lagarto.
É estranho, mas antes do 25 de Abril os políticos eram mais respeitados pelo povo, não só respeitados mas também admirados e reverenciados.
O regime de então tinha-se encarregue de os rodear de uma espécie de auréola de pessoas impolutas e como o Chefe do Governo era sempre o mesmo também eles continuavam nos seus cargos anos e anos seguidos porque, assegurada a fidelidade ao Grande Chefe, nenhuma outra razão haveria para que mudassem.
De um, lembro-me eu, julgo que era das Corporações, esteve lá tantos anos que até julgava ter nascido Ministro e quando, finalmente, deixou de o ser, teve que recorrer a uma Clínica Psiquiátrica para o ajudar a regressar à vida como uma pessoa normal ou seja, não ministro.
O culto que então se prestava à autoridade, da qual eles eram a sua expressão máxima, logo a seguir ao Grande Chefe, já se vê, punha-os ao abrigo de toda a crítica e censura porque eles personificavam o regime e este, tal como a religião, não se discutia nem se criticava porque além de ser proibido ainda era pecado.
Por esta razão, constava e dizia-se até, em surdina, que os comunistas e todos os que sendo do reviralho criticavam os políticos e o regime de então, estavam condenados às chamas eternas do inferno e por isso as pessoas mais velhas e mais chegadas à Igreja quando falavam deles era à boca pequena e de imediato se benziam.
Viviam, os ministros, dentro de uma espécie de casulo que os protegiam de olhares indiscretos e apenas o Grande Chefe era sabedor dos pecados que cometiam para uma eventual chamada de atenção ou até, quem sabe, algum puxão de orelhas.
Um regime moralista que vivia nas Graças do Senhor não podia desacreditar-se aos olhos da opinião pública por qualquer atentado à moral ou aos bons costumes praticado por um seu lídimo representante.
Por tudo isto o povo, temente a Deus, obediente na sua santa ignorância, respeitava e reverenciava os senhores ministros.
Depois, aconteceu o 25 de Abril e pelo país fora desabrocharam novos políticos, alguns deles desembarcados no cais de S. Apolónia e recebidos como autênticos heróis nacionais e o povo, alegre, esfusiante, associava-se porque aquilo era uma festa e o povo adora festas.
Mas agora era diferente porque as palavras de ordem eram liberdade e democracia, palavras novas há muito esquecidas e que depois de uma longa noite de silêncio de mais de 40 anos não se sabia bem o que fazer com elas.
E por isso a “festa” continuava nas fábricas, nos escritórios, nas ruas em enormes e constantes desfiles de contestações…
Grandes políticos como Álvaro Cunhal, Mário Soares, Francisco de Sá Carneiro e muitos outros, procuravam, através de discursos ideológicos, conduzir o povo, arregimentá-lo para os respectivos campos partidários mas a turbulência não tornava a tarefa fácil…
Infelizmente, a política parece fazer-se de promessas e para conseguir votos os políticos não conhecem caminho mais fácil.
Nas campanhas eleitorais não se pede aos cidadãos trabalho, rigor, disciplina, palavras proscritas na boca dos políticos. Não se oferece seriedade, competência, trabalho, sentido de responsabilidade. No seu lugar, promessas, eldorados, facilidades, aquilo que o povo gosta de ouvir mesmo quando é evidente que não têm consistência e não são sérias.
Desta forma, foram-se desacreditando ao longo dos anos e hoje até já se brinca com as promessas que cada político faz e depois não cumpre…e às vezes até é preferível não cumpri-las porque o disparate estava na promessa ( vidé referendo do Tratado de Lisboa).
A democracia partidária foi levada demasiado a sério no nosso país e caímos na partidarite com sacrifício da própria democracia.
Os partidos subdividiram-se em facções e transformaram-se em associações de interesse de grupos de pessoas que colaboram quando se trata da conquista dos votos e do poder para mais tarde cobrarem empregos parecendo, a Administração Pública e Autárquica, enormes coutadas de acesso priviligiado aos correligionários que integram as estruturas dos partidos e seus amigos.
Um candidato a chefe de governo chega mesmo ao ponto de defender que a intervenção de qualquer político na TV pública e mesmo privada, deve ser seguida de imediato pela intervenção de outro político, não só do partido da oposição mas, principalmente, da confiança do respectivo líder.
Eis a coutada disputada ao metro quadrado perante os aparvalhados coelhos que devemos ser nós!
Esta obsessão na disputa da influência que conduz ao poder assume aspectos caricatos e doentios e cada vez mais desperta descrença que se vai instalando nos cidadãos distanciando-os cada vez mais da política.
Brevemente, o problema da Regionalização irá de novo levantar-se depois de há quase uma década ter sido rejeitada claramente em Referendo.
Uma recente sondagem sobre este assunto continua a atribuir aos adeptos da Regionalização pouco mais de metade das respostas em sentido contrário.
Em teoria, a criação de Regiões Administrativas geridas por pessoas com o Poder que confere a legitimidade do voto e com uma relação de maior proximidade às terras e às gentes locais, poderia constituir um factor de dinamismo que promovesse um maior desenvolvimento dessas zonas numa solução, que, à partida, parece fazer sentido, quando, ainda por cima, os malefícios da concentração de poderes no Terreiro do Paço já fazem história neste país.
Mas o quê? Mais uma classe de políticos na disputa e exercício do poder? Nem pensar, diz Pacheco Pereira que conhecendo bem os partidos e os políticos é voz autorizada e não está só, a fazer fé nas sondagens, a maioria esmagadora dos portugueses está com ele.
E assim, uma ideia que até poderia ser vantajosa é precocemente “assassinada” pela má fama dos políticos antes, sequer, de poder ser testada na prática.
Resta-nos a esperança nos portugueses e se eles sobreviveram à ditadura mais facilmente irão ultrapassar os escolhos e sobressaltos da democracia.
Acreditar nos portugueses é acreditar na sociedade civil que, felizmente, não é apenas a pensão escandalosa do Paulo Teixeira Pinto, há muitos outros exemplos de verdadeiro sucesso entre nós mas porque não constituem escândalo não fazem vender jornais.
Quanto à política... já estivemos pior servidos.
José Sócrates e a sua equipa têm defeitos mas não tantos nem tão graves como a oposição e certos comentadores nos querem fazer crer.
Os portugueses têm que ter memória e desenvolver uma capacidade crítica serena, pensarem nas consequencias da globalização, olharem para a conjuntura internacional e perceberem como somos frágeis e dependentes e que dentro da estabilidade política é possível corrigir erros dos quais, o aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete e o referendo ao Tratado de Lisboa pela via da Assembleia da República, são bem exemplos disso.
E, já agora, estarem atentos à alternativa que se perfilha no horizonte, se continuar assim, lagarto… lagarto… lagarto.
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