segunda-feira, março 23, 2009


Tieta do Agreste
EPISÓDIO Nº 79




Terão de dar a mão à palmatória.
Tieta gostaria de participar da alegria geral mas aquele por cujo beijo anseia não está presente, não veio, não quis vir, preferindo seguir atrás do padre no lombo de um burro, o idiota! Que espécie de dor-de-cotovelo mais absurda! Seu rival é Deus. Pois Deus que se cuide, no particular Tieta do Agreste não costuma perder.

Por proposta de dona Carmosina, unanimemente aprovada, decidem voltar em seguida acompanhando Ascânio, ninguém se sente capaz de demorar-se o resto da tarde em Mangue Seco, esperando o pôr de sol, com tamanha novidade em Agreste. Todos desejam ver os engenheiros.

Todos menos Tieta. Anuncia a decisão de aceitar o convite de dona Laura e do Comandante, de ficar na praia até quarta-feira quando, em companhia de Modesto Pires, voltará a Agreste para a escritura do terreno.

Enquanto os demais se arrumam, leva Perpétua á Toca da Sogra, entrega-lhe um molho de chaves:

- Quero que você me faça um favor. Abra a mala azul, repare na chave, pegue aquela maleta onde guardo o dinheiro, a que você viu, abra com essa chave pequena, e retire… - calcula a quantia em voz alta, o necessário para dar um sinal a Modesto Pires, assegurando a compra do terreno, e para despesas iniciais de construção.

Você vai fazer casa? Em seguida?

- Imediatamente. Vou demarcar o terreno e começar uma casinha, pequena, o Comandante se ofereceu para tomar conta da obra, em Saco tem tudo o que precisa, em material e mão-de-obra, é só ter dinheiro para pagar. O Comandante disse que a construção pode andar depressa. Quero ver minha casinha de pé, pelo menos as paredes antes de regressar a são Paulo. Quando eu não estiver, você e os meninos ficam usando. Elisa também. – Fita a irmã, adoça a voz. – Tenho vontade de fazer alguma coisa por meus sobrinhos, Perpétua, já que não tenho filhos.

- Ah! Mana, que alegria você me dá dizendo isso – brilham os olhos gázeos, tremula a voz esganiçada. O acordo com o Senhor, apenas estabelecido e já em pleno andamento.

- Em Agreste, a gente conversa sobre isso.

- Por quem mando o dinheiro e as chaves?

- Pelo Comandante, ele vai com a canoa levando gente.

O Comandante não precisou ir, couberam todos na lancha de Elieser e no barco de Pirica onde se acomodarão, além de Ascânio, Leonora e Peto. Tieta se aflige:

- E eu que preciso desse dinheiro amanhã bem cedo. Mande por qualquer um que venha para cá.

- Deixe comigo, eu dou jeito – garante Perpétua.

Tieta confia, já alegre, sorrindo. O calundu passou, constata Leonora ao despedir-se. No momento do embarque, na praia, a caravana improvisa ruidosa manifestação, sob a batuta de dona Carmosina:

- Então, como é que é?

O coro responde:

- É!

- Para Antonieta nada?

- Tudo!

Dona Carmosina junta-se aos demais:

- Hip, hip!, hip, hip! Hurra! Antonieta! Antonieta!

Modesto Pires repete: - O povo de Agreste, se essa história da luz for verdade, como parece, vai-lhe entronizar no altar-mor da Matriz, junto da Senhora Sant’Ana, dona Antonieta. Eu já lhe disse e repito.

Tieta desata em riso: mundo mais divertido.

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