segunda-feira, setembro 21, 2009


TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 238



Doutor Baltazar Moreira aproveita para recuperar a palavra, afinal a ideia é sua e esse rapazola, mal saído da faculdade, está brilhando às suas custas. Ficara de apoiar e nada mais:

- Tem razão o doutor Gustavo. É diante desse comprador que nos temos de apresentar unidos, inteiramente de acordo. Se começarmos a lutar entre nós, teremos questão para mitos anos e a Brastânio, que não pode esperar, irá procurar noutra parte localização mais fácil para a sua indústria.

- Por isso mesmo – interrompe doutor Marcolino Pitombo – não adianta nada discutir sem a presença de um dos herdeiros. Como saber a sua opinião? Como conhecer seu pensamento?

Na porta do cartório, parado a ouvir sem que se dessem conta, o comandante Dário de Queluz eleva a voz:

- Vão saber agora mesmo meus caros senhores. Boa tarde doutor Franklin, permita-me tomar parte no debate.

Voltam-se todos, o Comandante não sendo nem bacharel em direito nem Antunes, que faz ali e por que deseja participar na discussão? Doutor Marcolino Pitombo conhece a posição do Comandante em relação à Brastânio: adversário militante da instalação da indústria de dióxido de titânio no município, anda exibindo pelas ruas o memorial das prefeituras de Ilhéus e Itabuna, publicado nos jornais do Sul. Felizmente não sabe quem o redigiu – e o advogado arvora um sorriso, cordial, surpreso e perspicaz.

- O prazer será todo nosso, Comandante, mas antes permita que por minha vez lhe pergunte em que qualidade deseja o senhor tomar parte nos debates?

Na face do doutor Franklin esboça-se também um sorriso, ele próprio lavrara o termo de opção de venda, não querendo deixar em mãos de Bonaparte assunto tão urgente, nem nas mãos nem no conhecimento, pois Bonaparte anda muito amável com o doutor Pitombo e tem chegado tarde a casa, mau sinal. Sorri igualmente o comandante Dórea de Queluz:

- Na qualidade de herdeiro. Fidélio Dórea Antunes de Arroubas Filho concedeu-me uma opção de venda sobre a sua parte no coqueiral, está registrada no cartório… - volta-se para doutor Franklin.

- É certo. Hoje pela manhã – confirma o tabelião.

- E posso desde já comunicar aos senhores que, de minha parte, não penso vender meus direitos, nem entrar em acordo, nem fazer sociedade, nada, três vezes nada. Agora, que já sabem, dêem-me licença, devo voltar para Mangue Seco. Passem bem meus caros senhores.

Indo em busca de dona Laura e Leonora, para no bar onde a malta reunida ouve, entre gargalhadas e bravos, os detalhes do acontecido na reunião.

- Devem estar quebrando a cabeça para descobrir um jeito de deserdar Fidélio. Mas Franklin me disse, nos disse, aliás, hoje, de manhã, que de todos os herdeiros, Fidélio é o de linha mais directa, ele e Canuto Tavares. Não é isso caro Fidélio?

Mesmo Seixas, apesar da decepção que a notícia causará ao coletor, pretendente à compra do terreno, se diverte. Diverte-se também Barbozinha que chega com novidades:

- Os jornais estão dizendo que as eleições para a Prefeitura vão ser marcadas hoje.

O Comandante já sabia, dona Carmosina mostrara-lhe o novo tópico de A Tarde reafirmando o interesse da Brastânio e a pressão sobre o Tribunal.

Despede-se, no começo da semana voltará, em companhia de Tieta, se tudo correr como ele espera.

O poeta senta-se, pede um trago de cachaça com limão, não anda com a garganta boa, precisa limpá-la. Pergunta:

- E as eleições, que me dizem vocês?

- Você é meu candidato… - responde Osnar.

- A prefeito? Deus me livre e guarde…

- Não. A padrinho de Peto na cerimónia do descabaçamento. Vai ser sábado. Nós queremos lhe pedir para escrever um poema para a festa.

Barbozinha amarra a tromba: voltam os amigos a gozá-lo por causa da versalhada para a Brastânio. Nada disso, bardo! Queremos apenas que Peto tenha tudo do melhor pois bem merece. Zuleika Cinderela, uma ceia sensacional, música e flores e uns versos que imortalizem o acontecimento. Desanuvia-se o rosto de Barbozinha: é um tema novo, um tanto escabroso mas que, tratado com delicadeza, pode resultar num soneto em cujos versos se misturem a malícia e a inocência, vai pôr mãos à obra. Cobra direitos autorais:

- Outro trago, Manu, por conta do soneto.

Site Meter