segunda-feira, outubro 12, 2009


A “ESTRANHEZA” DA MAIORIA ABSOLUTA DE ISALTINO MORAIS



Continuando a “correr sozinho” contra PS e PSD, o candidato Isaltino Morais volta a ganhar a Câmara de Oeiras, desta vez com maioria absoluta.

“Estranhamente”, na situação de condenado em Tribunal por um colectivo de três juízes em sete anos de prisão por crimes de abuso de poder, corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais mas com a sentença suspensa por efeito da figura jurídica do Recurso, o candidato Isaltino, reforça a vitória que tinha obtido nas anteriores eleições quando era apenas suspeito, arguido ou pronunciado.

Ou seja, em termos de campanha eleitoral, a condenação “funcionou” como uma espécie de mais valia, como se o eleitorado o quisesse compensar por “tão grave e injusta” decisão do Tribunal, do género: “os juízes condenaram-te, nós absolvemos-te”.

Não me parece que os eleitores tivessem pensado assim. Pura e simplesmente desprezaram a decisão do Tribunal, não a levaram em consideração porque, no fundo, não valorizam este tipo de crimes.

Perguntados em privado, olhos nos olhos, sorriem, encolhem os ombros e respondem:

- “Ora, se eu pudesse, também punha dinheiros na Suiça…”.

Ao fim de cerca de vinte anos de poder autárquico, aquele homem, que tem o perfil e a vocação próprias para a função, líder nato, considerado o autarca modelo do PSD, estabeleceu, no âmbito da Câmara de Oeiras, uma rede de cumplicidades, de favores, fez obra, arranjou empregos, ajudou a resolver problemas de centenas de pessoas e é tudo isso que as pessoas lembram e consideram.

O “nosso povo”, na expressão querida ao PCP, sabe bem que o poder é uma tentação à qual poucos resistem. Sempre foi assim, está nos genes dos homens, gravado na história:

- O Governador da Índia escrevia a El-Rei a solicitar-lhe a prorrogação do mandato “porque ainda tenho uma filha para casar”.

Negócios do Estado e negócios particulares frequentemente se misturaram mas o que sempre foi importante e decisivo é que os governados considerem boa a acção do governante.

Hoje ainda, apesar das coisas terem mudado muito, e a condenação na justiça de Isaltino é disso prova, as pessoas têm a noção de que os poderosos, nestes lugares importantes, sempre se “governam”, simplesmente não se deixam apanhar e condenar como o Isaltino, que terá exagerado nos seus comportamentos de despudor e excesso de confiança e à vontade que o levaram a ultrapassar em muito, os limites do que era legal com uma falsa noção de impunidade.

O rigor e a honestidade aliados à competência são considerados excepções que ainda não fizeram escola na nossa cultura.

O civismo e o amor desinteressado à causa pública como um dever, são novidades recentes e o “sentir profundo” de uma sociedade leva muitas gerações até que seja completamente alterado.

A reacção de repulsa por um candidato a um cargo público no exercício do qual praticou actos tão graves, severamente julgados e condenados pelo Tribunal, foi substituída por aquilo que poderemos considerar o “aplauso amplamente unânime” de um eleitorado que, para agravar as coisas, integra uma forte componente de pessoas evoluídas e letradas.

Por tudo isto, a vitória por maioria absoluta de Isaltino Morais, só tenha sido estranha a observadores do exterior que não estejam por dentro das características culturais da nossa sociedade.

Infelizmente, para Isaltino Morais, a máquina da justiça não vai parar e nem a vitória com maioria absoluta lhe irá valer.

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