quarta-feira, setembro 08, 2010

DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS


Episódio Nº 219


Cansada e com certo medo, mas ainda cheia de raiva e disposta a tudo, ali permaneceu horas a fio, vendo cruzar na sua frente artistas conhecidos, cantores afamados, e entre eles Silvinho Lamenha, com uma flor na botoeira e imenso anel no dedo mínimo. Alguns olhavam para ela, quem seria aquela moça tão bonita? O porteiro, de quando em vez, sorrindo lhe dizia (querendo, quem sabe, confortá-la, condoído de sua aflição e de sua juventude):

- Não chegou ainda, mas não pode demorar. Já era hora de ter vindo…

Por volta das oito horas, noite feita, com os olhos ardendo e o coração em susto, perguntou ao porteiro onde beber um café e comer uma sanduíche. No bufê da própria rádio, fosse entrando. Lá, vendo e ouvindo cantores e actrizes, seus ídolos, ganhou novas forças, decidida a esperar a vida inteira, se preciso, para cumprir seu destino de estrela.

Retornou à portaria e pensou: “Mamãe, coitada, a essa hora já deve estar morrendo de preocupação”, misturando pena e remorso à raiva e à intrepidez. Pouco depois o porteiro da tarde despediu-se, e o seu substituto disse a Marilda não acreditar no retorno de Oswaldinho:

- A essa hora? Não vem mais…

Já quase às nove e meia, quando a custo ela continha o choro, um sujeito desdentado encostou-se ao balcão da portaria e, após fitá-la com insistência, meteu-se de prosa e riso com o porteiro, a lhe contar feitos de jogo, decorridos ali perto, no Tabaris. De súbito Marilda ouviu o sujeito falar em Oswaldinho e soube estar o seu amigo a jogar desde o fim da tarde, na mesa da roleta. Muito alegre, no dizer do desdentado.

- Tabaris? O que é isso e onde fica?

Riu-se o tipo a fitá-la com indecente gula:

- Aqui pertinho, se quiser lhe levo lá… - doido para ver o escândalo, gozar as lágrimas e as recriminações, aquele Oswaldinho era mesmo a perdição das moças.

Atravessaram a praça, o desdentado a tirar conversa, querendo saber se Marilda era esposa, noiva ou apenas namorada. Para esposa, muito moça, para namorada muito aflita… Na porta do cabaré, depararam com Mirandão, que se retirava para o Palace. Ao passar viu Marilda de relance, foi andando. Mas logo a reconheceu e voltou rápido:

- Marilda! Que diabo está fazendo aqui?...

- Ah! seu Miranda, como vai?

Mirandão conhecia demais o desdentado:

- Bafo-de-Onça, que é que você faz aqui com essa moça?

- Eu? Nada… Ela me pediu…

- Para vir aqui? Mentira sua… - Já se exaltava Mirandão.

Marilda desculpou o outro: ela lhe pedira, sim.

- Para vir aqui, no Tabaris? Fazer o quê? Me diga.

Contou-lhe tudo, finalmente e ele a trouxe de volta para casa, da qual não estavam tão distantes. Foram encontrar dona Maria do Carmo como louca, num chilique, em pranto, atirada ao leito, a gritar
pela filha. A seu lado,
dona Flor, doutor Teodoro, dona Amélia.

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