sábado, setembro 18, 2010


DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS


Episódio Nº 228




Assim, ouviu com cepticismo aquela lengalenga e, mal dona Magnólia acabara de citar os próprios seios com tanta dignidade defendidos dos pseudo-avanços do doutor, o detective meteu-lhe a mão nas fuças e lhe exigiu completa confissão.

Surra de perito, de alguém com experiência e gosto. Dona Magnólia contou o que fez e o que não fez, inclusive casos antigos, sem ligação nenhuma com o polícia, e, de lambugem, a completa verdade das suas relações com doutor Teodoro. Completa verdade, em termos, pois ao inocentá-lo não deixou de opinar sobre o doutor impotente, com muita figura e nenhuma serventia, pois jamais alguém lhe fizera a injúria de resistir à paisagem do seu traseiro levantado em guerra.

Foi um alvoroço pela rua, um bafatá. Os tapas e os gritos, os palavrões trouxeram para a frente da casa do secreta curiosa e fremente malta de vizinhos, comadres e alunos do ginásio. As comadres e em geral a vizinhança apoiavam a surra bem merecida e bem aplicada, com um único defeito: haver tardado tanto. Os rapazolas do colégio sofriam cada bofete, cada safanão como se fosse na própria carne, sendo naquela carne de ternura e dengue por todos eles possuída em adolescentes leitos solitários. Houve noites nas quais ela dormiu, ubíqua fêmea, omnipresente pastora de meninos, mestra do amor, em mais de quarenta camas juvenis num só tempo de sonho e arrebol.

Quem, no entanto, penetrou em casa do secreta, foram dona Flor e dona Norma, contentando-se os demais em aplaudir ou criticar, ninguém queria encrenca com tira de polícia.

- Seu Tiago, o que é isso? Quer matar a desgraçada? Vamos, solte ela… - gritou dona Norma.

- Bem merecia que eu acabasse com ela, essa vaca… - respondeu o desportista, aplicando uns derradeiros golpes.

Pobrezinha dela… O senhor é um monstro… disse dona Flor, curvando-se sobre a moída vítima do destino.

- Pobrezinha? – o tira não podia com tamanha injustiça – Pois sabe o que esta pobrezinha inventou sobre o seu marido?

- Sobre o meu marido?

- Pois me veio contar que o doutor estava atrás dela e que quis pegar ela hoje na farmácia, a pulso. Quando eu apertei, confessou que era tudo mentira, que queria me intrigar com ele, para eu ir tomar satisfação, que foi ela quem deu em cima e ele não topou. Isso sem falar no resto.

Numa voz soturna perguntou:

- A senhora sabe como estavam me chamando? “A vergonha da polícia”.

Naquela noite, ao saírem para o cinema, enquanto se aprontavam, dona Flor ante o espelho, pondo pó-de-arroz, disse sorrindo ao doutor Teodoro:

- Então o senhor doutor anda querendo pegar as clientes que vão à farmácia tomar injecção… Quis agarrar dona Magnólia…

Ele a fitou e se deu conta da pilhéria: dona Flor não mantinha o sério, lhe parecendo cómico tudo aquilo. Por mais que quisesse se enternecer com a lealdade do marido, não conseguia afastar a imagem do doutor Teodoro de seringa na mão e a peituda Magnólia, descaradíssima, a tentar beijá-lo. Marido direito estava ali, correcto de toda a correcção. Mas, que fazer se aquela história se lhe afigurava divertida, mais ridícula do que heróica?

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