DONA FLOR
E SEUS DOIS
MARIDOS
- Saia! – disse o doutor em voz baixa mas de rude assento.
- Meu mulato lindo e o atracou.
- Saia! O doutor repelia aqueles braços ávidos, aquela boca voraz, plantado em seus princípios, em suas convicções inabaláveis – Fora daqui!
Majestoso em sua em sua virtude inflexível, de seringa e bata branca, o rosto indignado, se o doutor estivesse sobre um pedestal seria o perfeito monumento, a fulgurante estátua da moral vitoriosa sobre o vício. Mas o vício, ou seja a descomposta e humilhada dona Magnólia, não fitava o impoluto herói com olhos de remorso e contrição e sim, de nojo e ira, em fúria:
- Broxa! Capado! Você me paga, seu banana, seu xibungo velho! – e saiu para intrigar.
Pobre dona Magnólia, vítima do desprezo e do acaso, realmente em mar de urucubaca, pois foram os mais imprevistos os resultados da sua intriga, redundando em fracasso seus planos de vingança. Enfática e insultada (em seu recato, em sua honra de manceba séria) queixara-se ao secreta da “perseguição daquele bode imundo, o farmacêutico”, um completo sem vergonha a lhe fazer propostas, a lhe repetir dichotes, a convidá-la a ir com ele ver o luar nas areias de Albaeté. Estava o canalha a merecer uma lição, uns trancos pertinentes, talvez breve passagem pelo xilindró com bolos de palmatória para lhe ensinar respeito às mulheres dos demais.
Nada dissera antes para evitar barulho e para não dar desgosto à mulher dele, tão boazinha. Mas, naquele dia ele exagerara… Ela fora à farmácia tomar uma injecção e o patife quisera-lhe meter as mãos no peito, obrigando-a a sair correndo…
Em silêncio o secreta ouviu toda a história, e dona Magnólia, conhecendo-o bem constatava a raiva cada vez maior na face do seu homem: o doutor lhe pagaria caro a ofensa, pelo menos uma noite de xadrez.
Naquela tarde o policial se atritara com um colega em consequência de erros de cálculo na barganha de uns mil-réis extorquidos a bicheiros. No diálogo um tanto áspero a preceder a troca de socos e bofetões, tendo o amásio de dona Magnólia rotulado o companheiro de gatuno, dele ouviu revelações de estarrecer: “antes ladrão, disse ele, que chifrudo, corno manso como o caro amigo”. Acrescentara em seguida as provas de certas peripécias recentes de dona Magnólia. Em resumo lhe informou que, só colegas da polícia eram cinco a se revezarem na tarefa de decorar a testa do distinto. Sem falar no delegado de costumes. Se lhe pusessem uma lâmpada em cada chifre dava para iluminar meia cidade, do Largo da sé ao Campo Grande. Podia não ser ladrão mas era vergonha da polícia. Foram os tabefes.
De honra limpa na peleja, fez as pazes com o confrade e de ele e de outros escutou informações de estarrecer: já tinha ouvido falar numa tal de Messalina? Não é da zona não, é da História, e foi a tal. Pois, junto de dona Magnólia, era donzela pura…
Acabrunhado, a vergonha da polícia jurou vingança, num plágio aliás de ameaça de dona Magnólia ao farmacêutico:
- Vaca! Vai me pagar!
E SEUS DOIS
MARIDOS
Episódio Nº 227
- Saia! – disse o doutor em voz baixa mas de rude assento.
- Meu mulato lindo e o atracou.
- Saia! O doutor repelia aqueles braços ávidos, aquela boca voraz, plantado em seus princípios, em suas convicções inabaláveis – Fora daqui!
Majestoso em sua em sua virtude inflexível, de seringa e bata branca, o rosto indignado, se o doutor estivesse sobre um pedestal seria o perfeito monumento, a fulgurante estátua da moral vitoriosa sobre o vício. Mas o vício, ou seja a descomposta e humilhada dona Magnólia, não fitava o impoluto herói com olhos de remorso e contrição e sim, de nojo e ira, em fúria:
- Broxa! Capado! Você me paga, seu banana, seu xibungo velho! – e saiu para intrigar.
Pobre dona Magnólia, vítima do desprezo e do acaso, realmente em mar de urucubaca, pois foram os mais imprevistos os resultados da sua intriga, redundando em fracasso seus planos de vingança. Enfática e insultada (em seu recato, em sua honra de manceba séria) queixara-se ao secreta da “perseguição daquele bode imundo, o farmacêutico”, um completo sem vergonha a lhe fazer propostas, a lhe repetir dichotes, a convidá-la a ir com ele ver o luar nas areias de Albaeté. Estava o canalha a merecer uma lição, uns trancos pertinentes, talvez breve passagem pelo xilindró com bolos de palmatória para lhe ensinar respeito às mulheres dos demais.
Nada dissera antes para evitar barulho e para não dar desgosto à mulher dele, tão boazinha. Mas, naquele dia ele exagerara… Ela fora à farmácia tomar uma injecção e o patife quisera-lhe meter as mãos no peito, obrigando-a a sair correndo…
Em silêncio o secreta ouviu toda a história, e dona Magnólia, conhecendo-o bem constatava a raiva cada vez maior na face do seu homem: o doutor lhe pagaria caro a ofensa, pelo menos uma noite de xadrez.
Naquela tarde o policial se atritara com um colega em consequência de erros de cálculo na barganha de uns mil-réis extorquidos a bicheiros. No diálogo um tanto áspero a preceder a troca de socos e bofetões, tendo o amásio de dona Magnólia rotulado o companheiro de gatuno, dele ouviu revelações de estarrecer: “antes ladrão, disse ele, que chifrudo, corno manso como o caro amigo”. Acrescentara em seguida as provas de certas peripécias recentes de dona Magnólia. Em resumo lhe informou que, só colegas da polícia eram cinco a se revezarem na tarefa de decorar a testa do distinto. Sem falar no delegado de costumes. Se lhe pusessem uma lâmpada em cada chifre dava para iluminar meia cidade, do Largo da sé ao Campo Grande. Podia não ser ladrão mas era vergonha da polícia. Foram os tabefes.
De honra limpa na peleja, fez as pazes com o confrade e de ele e de outros escutou informações de estarrecer: já tinha ouvido falar numa tal de Messalina? Não é da zona não, é da História, e foi a tal. Pois, junto de dona Magnólia, era donzela pura…
Acabrunhado, a vergonha da polícia jurou vingança, num plágio aliás de ameaça de dona Magnólia ao farmacêutico:
- Vaca! Vai me pagar!
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