quinta-feira, outubro 14, 2010

DONA FLOR
E SEUS DOIS
MARIDOS

Episódio Nº 243


- Lá vem ele, Vadinho, vai-te embora… Fiquei contente, muito contente, nem sabes, de te ver… Foi bom demais.

Vadinho bem do seu, a la godaça.

- Vai embora, doido, ele já está entrando em casa, vai fechar a porta.

- Por que hei-de ir me diga?

- Ele chega vai te ver aqui, que é que eu vou dizer?

- Tola… ele não me vê, só quem me vê és tu, minha flor de perdição…

- Mas ele vai deitar na cama…

Vadinho fez um gesto de lástima impotente:

- Não posso impedir, mas, apertando um pouco cabe nós três…

Dessa vez ela se zangou deveras:

- Que é que tu pensa de mim ou tu não me conheces mais? Por que me trata como se eu fosse mulher-dama, meretriz? Como se atreve? Não me respeita? Tu bem sabe que sou mulher honesta…

- Não se zangue, meu bem… Mas foi você quem me chamou…

- Só queria te ver e conversar contigo…

- Mas se a gente nem conversou ainda…

- Tu volta amanhã e nós conversamos…

- Não posso estar indo e voltando… ou tu pensa que é uma viaginha de brinquedo, como ir daqui a Santo Amaro ou à Feira de Santana? Pensa que é só dizer: “eu vou ali já volto?” Meu bem, já que vim, eu me instalo de uma vez…

- Mas não aqui no quarto, aqui na cama, pelo amor de Deus. Veja, Vadinho, mesmo ele não te vendo, eu fico morta de sem jeito. Não tenho cara para isso – e fez a sua voz de choro, jamais ele tolerou vê-la chorar..

Está bem, vou dormir na sala, amanhã a gente resolve isso. Mas antes quero um beijo.

Ouviram o doutor no banheiro a se lavar, o ruído da água. Ela lhe estendeu a face pundunorosa.

- Não, meu bem, na boca se quiser que eu saia…

O doutor não tarda que fazer senão sujeitar-se à exigência do tirano, entregar-lhe os lábios?

- Ai, Vadinho, ai… - e mais não disse, lábios, língua e lágrimas (de pejo ou de alegria) mastigados na boca voraz e sábia,. Ai, esse sim, um beijo!

Ele saiu com sua nudez inteira, tão belo e másculo! Dourada penugem a lhe cobrir braços e pernas, mata de pelos loiros no peito, a cicatriz da navalhada no ombro esquerdo, o insolente
bigode e o olhar de frete. Saiu deixando o beijo a lhe queimar a boca (e as entranhas).

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