DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
DOIS
MARIDOS
Episódio Nº 249
Ao fim da aula do turno matutino, quando tiravam a sorte para escolher quem levaria a compoteira de baba-de-moça para casa, dona Flor sentiu sua presença mesmo antes de vê-lo.
Até então não se acostumara com o facto de ser apenas ela a enxergá-lo e, ao dar com Vadinho junto à mesa, todo nu e exibido, estremeceu. Mas como as alunas não reagiram ao escândalo, recordou-se do seu privilégio: para os demais o seu marido era invisível. Ainda bem.
Continuavam as alunas a rir e a pilheriar como se entre elas não se encontrasse um homem nu em pêlo, a considerá-las e a medi-las com olho clínico, demorando-se nas mais bonitas, um abuso. Lá vinha ele perturbar outra vez as aulas, meter-se com as alunas, igual a antes. Por falar nisso, Vadinho lhe devia explicações, o acerto de contas em atraso, antigas: aquela pérfida Inês Vasques dos Santos, a lambisgóia.
Muito pachola, na maciota, num passo leve, quase passo de dança, ele rodeou três vezes a abundante Zulmira Simões Fagundes, crioula augusta, opíparos quadris, seios de bronze (ao menos pareciam) secretária particular do poderoso magnata senhor Pelancchi Moulas, muito particular, no dizer do povo.
Tendo-lhe aprovado as ancas com distinção e louvor, Vadinho quis tirar a limpo de uma vez por todas o enigma dos seios: seriam mesmo de bronze ou apenas de extraordinária rigidez? Para tanto elevou-se no ar e, pondo-se com os pés para cima e a cabeça para baixo, espiou pelo decote do vestido da princesa da nação nagô.
Emudeceu dona Flor, estarrecida, não o vira ainda a se evolar, tão à vontade no ar como em terra firme, mantendo-se ali da maneira que melhor lhe convinha: de pé ou estendido em horizontal, inclinado ou de cabeça para baixo – como naquele instante a enxerir os peitos da soberba.
Não era dado às alunas vê-lo, é certo, porém algo deviam sentir na atmosfera, pois estavam por demais nervosas, rindo e falando à toa, numa espécie de pressentimento. Dona Flor foi ficando braba, Vadinho ultrapassara todas as medidas. Ultrapassou-as realmente quando, não satisfeito com o espiar meteu decote abaixo para decidir em definitivo a matéria-prima daquelas criações divinas: eram de carne e sangue ou de milagre?
Ai – gemeu Zulmira, estão tocando em mim…
Dona Flor perdeu a cabeça ante tanta canalhice, explodiu num grito:
- Vadinho!
Quem? O quê? Como? O que é que tem? O que foi? As alunas tontas e excitadas cercaram a companheira e a professora – Que foi que disse, dona Flor? E você, Zulmira?
Zulmira explicou num suspiro dengoso:
- Senti uma coisa pegar e comprimir meu peito…
- Uma dor?
- Não… mais bem um agrado…
Recompunha-se com esforço dona Flor, Vadinho sumira no seu grito de aflição.
Até então não se acostumara com o facto de ser apenas ela a enxergá-lo e, ao dar com Vadinho junto à mesa, todo nu e exibido, estremeceu. Mas como as alunas não reagiram ao escândalo, recordou-se do seu privilégio: para os demais o seu marido era invisível. Ainda bem.
Continuavam as alunas a rir e a pilheriar como se entre elas não se encontrasse um homem nu em pêlo, a considerá-las e a medi-las com olho clínico, demorando-se nas mais bonitas, um abuso. Lá vinha ele perturbar outra vez as aulas, meter-se com as alunas, igual a antes. Por falar nisso, Vadinho lhe devia explicações, o acerto de contas em atraso, antigas: aquela pérfida Inês Vasques dos Santos, a lambisgóia.
Muito pachola, na maciota, num passo leve, quase passo de dança, ele rodeou três vezes a abundante Zulmira Simões Fagundes, crioula augusta, opíparos quadris, seios de bronze (ao menos pareciam) secretária particular do poderoso magnata senhor Pelancchi Moulas, muito particular, no dizer do povo.
Tendo-lhe aprovado as ancas com distinção e louvor, Vadinho quis tirar a limpo de uma vez por todas o enigma dos seios: seriam mesmo de bronze ou apenas de extraordinária rigidez? Para tanto elevou-se no ar e, pondo-se com os pés para cima e a cabeça para baixo, espiou pelo decote do vestido da princesa da nação nagô.
Emudeceu dona Flor, estarrecida, não o vira ainda a se evolar, tão à vontade no ar como em terra firme, mantendo-se ali da maneira que melhor lhe convinha: de pé ou estendido em horizontal, inclinado ou de cabeça para baixo – como naquele instante a enxerir os peitos da soberba.
Não era dado às alunas vê-lo, é certo, porém algo deviam sentir na atmosfera, pois estavam por demais nervosas, rindo e falando à toa, numa espécie de pressentimento. Dona Flor foi ficando braba, Vadinho ultrapassara todas as medidas. Ultrapassou-as realmente quando, não satisfeito com o espiar meteu decote abaixo para decidir em definitivo a matéria-prima daquelas criações divinas: eram de carne e sangue ou de milagre?
Ai – gemeu Zulmira, estão tocando em mim…
Dona Flor perdeu a cabeça ante tanta canalhice, explodiu num grito:
- Vadinho!
Quem? O quê? Como? O que é que tem? O que foi? As alunas tontas e excitadas cercaram a companheira e a professora – Que foi que disse, dona Flor? E você, Zulmira?
Zulmira explicou num suspiro dengoso:
- Senti uma coisa pegar e comprimir meu peito…
- Uma dor?
- Não… mais bem um agrado…
Recompunha-se com esforço dona Flor, Vadinho sumira no seu grito de aflição.
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