sábado, outubro 23, 2010

DONA FLOR
E SEUS DOIS
MARIDOS

Episódio Nº 251



No entanto, antes de entrar e sair do banheiro, ela examinara o quarto constatando a ausência de qualquer dos seus maridos: o doutor ainda na farmácia e Vadinho virara alcanfor desde o escândalo do primeiro turno.

Pois bem, lá estava o tinhoso em cima do guarda roupas, balançando as pernas. Ao lusco-fusco, naquela meia sombra, parecia da mesma madeira do anjo posto no corredor da Igreja de Santa Tereza. Seu olhar caía sobre os ombros de dona Flor com tal cupidez a ponto da gula escorrer como um óleo sobre ela, sobre seu corpo húmido. “Meu Deus”! murmurou dona Flor, apanhando a bata para vesti-la às carreiras.

- Por que isso, meu bem? Será que eu não te conheço toda, todinha inteira? Onde é que eu não te beijei ainda? Que tolice é essa? Que besteira…

Num salto de bailarino – que leveza de movimentos! – seu corpo nu atravessou a luz e a sombra, veio aterrissar com elegância no leito de ferro, sobre o novo colchão de molas:

- Minha filha, este colchão novo é uma nuvem, é bom demais. Meus parabéns.

Estirou-se indolente, uma réstia de luz lhe marcava o sorriso satisfeito no rosto sensual e tentador. Dona Flor, na sombra, o contemplava.

Vem aqui, Flor, vem deitar junto de mim, vamos vadiar um pinguinho. Deita aqui, vamos rebolar nesse colchão cutuba…

Ainda no amuo do acontecido com as alunas – aquele despropósito de Vadinho meter a mão nos peitos de Zulmira e a peste gostando, pois, mesmo sem enxergar o sem-vergonha, ficara toda esmorecida, num dengue de desmaio – dona Flor reagiu brusca:

- Acha pouco o que fez? Não contente, ainda vem se esconder para me espiar? Você não ganhou modos nesse tempo, podia ter aproveitado…

- Não fique assim, meu bem… Deite aqui, juntinho de mim.

- E ainda tem coragem de me chamar para deitar junto de você! O que é que você pensa de mim? Que não tenho honra nem brio?

Vadinho não queria discussão:

- Meu bem, que zanga é essa? Não fiz nada demais… Rabeei o olho um nadinha na anatomia da moça… Só de curiosidade para saber como são feitos os caprichos de Pelancchi Moulas. Dizem que ele mama naqueles peitos… - riu e depois baixou a voz – venha, meu bem, sente aqui junto de seu maridinho, já que não quer se deitar, tem medo. Sente que gastar um dedo de prosa, não foi você mesma quem disse que a gente precisa conversar?

- Eu sento e você depois quer me pegar o pulso…

- Ah1 se eu pudesse… Então tu pensa que se eu te pudesse pegar a pulso, sem teu consentimento, eu estava aqui te adulando, perdendo tempo? À força, meu bem, nunca vou te querer: escreva isso que é palavra de Vadinho…

- Tu tá proibido de me pegar a pulso?

- Proibido? E por quem? Não tem deus nem diabo para me proibir seja do que for. Tu não sabe
disso ou tu viveu comigo sete anos e não me aprendeu?

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