segunda-feira, novembro 22, 2010


DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS

Episódio Nº 275



Dona Flor em aflição, desatinada, temendo por sua honra, pelo seu lar feliz, tudo em perigo. Que dizer então de Pelancchi Moulas? Ruía seu império como sob um terramoto ou uma revolução.

Nunca se vira nada igual desde o começo do mundo e das apostas. Já sucedeu, é certo, sorte extraordinária, assim como azar descomunal, e por mais de uma vez, um jogador, com fortuna e decisão, estourou a banca de um casino. São acontecimentos raros e sempre limitados. Fora disso há batota. Mas também na trapaça é logo descoberta, sobretudo se persistente e repetida. Nesse mundo de incertezas, nada mais seguro que as receitas e os lucros dos concessionários dos casinos e do bicho, da jogatina: ganham de muitos, perdem para uns poucos, são uns grão-senhores, vivem à tripa forra.
Melhor negócio, mamata mais rendosa, só mesmo a Presidência da República.

Contra Pelancchi Moulas, porém, levantavam-se baralhos, dados e roletas, acontecia tudo quanto não tinha explicação. O absurdo, o inacreditável, o impossível, era necessário ver para crer, e ainda assim, vendo com os olhos que a terra há-de comer, muita gente repetia as palavras daquele homem de Ilhéus, ao assistir ao torneio de damas de Arigof: “estou vendo e não acredito”.

Em matéria de jogo o professor Máximo Sales vira tudo em sua vida, inclusivé um homem morrer do coração ao acertar em pleno na roleta e outro se matar engolindo uma pastilha de veneno, morte feia. Nunca pensara em deparar com o inexplicável, era um céptico, tinha os pés na terra e a cabeça fria.

Adolescente vendera pule de bicho em Porto Alegre, em Manaus fora gerente de uma tasca, crupiê no Rio, marreteiro no Recife, bancara ronda em Maceió, viveu de pocker nos garimpos, conhecia todos os segredos, cada ladroeira.

_ Então, professor o que é que me diz? Quais os resultados do seu inquérito? De concreto, o quê? – a voz de Pelancchi, seus olhos maus e o medo.

De concreto, nada, Máximo Sales dava a mão à palmatória. Dados e baralhos tinham sofrido os exames mais minuciosos, também mesas e caixas, nenhum indício. Veio a polícia, um delegado com fama de muito competente, vários secretas interrogaram os empregados, sob a orientação de Máximo. Exaustivamente, sem levar em conta posto, idade, sequer as relações de intimidade com o patrão. Nem Domingos Propalato, irmão-de-leite de Pelancchi fora poupado. Só Zulmira escapara de tal humilhação, mas nem por ser quem era o professor a inocentara:

- Vai-se ver e essa tipa é da quadrilha.

Para Máximo só uma quadrilha, e das mais bem organizadas, poderia ter montado aquela batota extraordinária. Uma quadrilha internacional, faltando aos trapaceiros locais competência para tanto; tão pouco a possuindo os do Rio ou de São Paulo. Só especialistas europeus ou americanos, de Monte Carlo ou de Las Vegas, seriam capazes de façanhas como a do bacará: durante duas noites seguidas, na mesma mesa de bacará, no Tabaris, deu o ponto todas as vezes e nem uma vez a banca, o velho Anacreon ganhando uma fortuna.

Ele e todo o mundo pois uma verdadeira multidão acompanhou o jogo do sortudo. Sortudo? Para Máximo, Anacreon era apenas um cúmplice dos bandidos.

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