DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
E SEUS
DOIS
MARIDOS
Episódio Nº 278
O nome de Vadinho veio à baila e Roberto declamou, erguendo o copo de cerveja, a ode do poeta Godofredo, mas, quanto a dinheiro, estava liso, sem vintém.
De bucho cheio, com a alma leve (nada como um bom sarapatel para lavar a alma num domingo), Mirandão se bateu inutilmente pelas ruas, atrás de numerário. Se arranjasse dinheiro suficiente haveria de perder algum no 17. Seu número era o 3 sendo-lhe igualmente simpático o 32. Um desperdício jogar no 17, e ele o faria como se depositasse flores no túmulo de Vadinho.
Mas, sendo Domingo, onde obter dinheiro? Todo o mundo no futebol ou no cinema, ninguém na rua. Dois ou três amigos disponíveis negaram-se a lhe financiar a sorte, uns pessimistas.
Quando já sem esperança lembrou-se de sua comadre dona Flor. Nunca recorrera a ela para questões de jogo, só para atender à saúde dos meninos e certa vez para um concerto no telhado de sua residência pois o senhorio recusara-se a cumprir as obrigações de proprietário, revelando-se mesquinho e desalmado:
- Chovendo dentro de casa? Em cima dos meninos? Por mim, seu Mirandão, pode chover quanto quiser em cima de quem for, pode cair a parede, o telhado, a cumeeira, que me importa? A casa é minha? Pois a casa mais parece de Vossa Senhoria, meu caro amigo. Já vão mais de seis anos que eu não vejo a cor do seu dinheiro…
E se encontrasse o doutor Teodoro. Depois do novo casamento da comadre, Mirandão só uma vez a visitara, não querendo impor sua presença ao farmacêutico que não teria certamente gosto em vê-lo, tão parecido era ele com Vadinho, sua cópia ou o seu retrato, não no físico – um loiro, outro mulato – mas na moral ou na falta de moral, como preferiam alguns.
Naquela tarde, porém, não tinha, Mirandão outro recurso; ou incomodar a comadre ou desistir do jogo.
- Olhe quem nos aparece… - disse dona Gisa a dona Flor, as duas sentadas em cadeiras na calçada.
- Meu Deus, ele se mostrou a Mirandão… - pensa dona Flor em susto pois ao lado compadre vinha o ex-finado, todo faceiro e nu (abandonara a camisa de mulheres provocantes).
Não, Mirandão não o enxergava. Ainda bem. Saudando dona Flor e dona Gisa o compadre pediu notícias da saúde do doutor.
- Está óptimo. Foi a uma reunião na Sociedade de Farmácia…
- E eu que não sabia que você estava aqui sozinha… - disse Vadinho, mas só dona Flor o ouviu e não lhe fez caso.
Dona Gisa ainda conversou um pouco, mas logo depois pediu licença, pretextando deveres de inglês a corrigir. Mirandão sentou-se na cadeira vaga:
- Minha comadre, me desculpe, mas é que estou numa precisão medonha…
- Alguém doente em casa, meu compadre?
- Quase inventa uma doença, um filho com febre, necessitado de remédio e médico. Mas por que afligir a comadre, além de lhe abiscoitar os cobres?
- Não, comadre, não é nada de doença… É mesmo jogo…
- Ainda bem, compadre.
O nome de Vadinho veio à baila e Roberto declamou, erguendo o copo de cerveja, a ode do poeta Godofredo, mas, quanto a dinheiro, estava liso, sem vintém.
De bucho cheio, com a alma leve (nada como um bom sarapatel para lavar a alma num domingo), Mirandão se bateu inutilmente pelas ruas, atrás de numerário. Se arranjasse dinheiro suficiente haveria de perder algum no 17. Seu número era o 3 sendo-lhe igualmente simpático o 32. Um desperdício jogar no 17, e ele o faria como se depositasse flores no túmulo de Vadinho.
Mas, sendo Domingo, onde obter dinheiro? Todo o mundo no futebol ou no cinema, ninguém na rua. Dois ou três amigos disponíveis negaram-se a lhe financiar a sorte, uns pessimistas.
Quando já sem esperança lembrou-se de sua comadre dona Flor. Nunca recorrera a ela para questões de jogo, só para atender à saúde dos meninos e certa vez para um concerto no telhado de sua residência pois o senhorio recusara-se a cumprir as obrigações de proprietário, revelando-se mesquinho e desalmado:
- Chovendo dentro de casa? Em cima dos meninos? Por mim, seu Mirandão, pode chover quanto quiser em cima de quem for, pode cair a parede, o telhado, a cumeeira, que me importa? A casa é minha? Pois a casa mais parece de Vossa Senhoria, meu caro amigo. Já vão mais de seis anos que eu não vejo a cor do seu dinheiro…
E se encontrasse o doutor Teodoro. Depois do novo casamento da comadre, Mirandão só uma vez a visitara, não querendo impor sua presença ao farmacêutico que não teria certamente gosto em vê-lo, tão parecido era ele com Vadinho, sua cópia ou o seu retrato, não no físico – um loiro, outro mulato – mas na moral ou na falta de moral, como preferiam alguns.
Naquela tarde, porém, não tinha, Mirandão outro recurso; ou incomodar a comadre ou desistir do jogo.
- Olhe quem nos aparece… - disse dona Gisa a dona Flor, as duas sentadas em cadeiras na calçada.
- Meu Deus, ele se mostrou a Mirandão… - pensa dona Flor em susto pois ao lado compadre vinha o ex-finado, todo faceiro e nu (abandonara a camisa de mulheres provocantes).
Não, Mirandão não o enxergava. Ainda bem. Saudando dona Flor e dona Gisa o compadre pediu notícias da saúde do doutor.
- Está óptimo. Foi a uma reunião na Sociedade de Farmácia…
- E eu que não sabia que você estava aqui sozinha… - disse Vadinho, mas só dona Flor o ouviu e não lhe fez caso.
Dona Gisa ainda conversou um pouco, mas logo depois pediu licença, pretextando deveres de inglês a corrigir. Mirandão sentou-se na cadeira vaga:
- Minha comadre, me desculpe, mas é que estou numa precisão medonha…
- Alguém doente em casa, meu compadre?
- Quase inventa uma doença, um filho com febre, necessitado de remédio e médico. Mas por que afligir a comadre, além de lhe abiscoitar os cobres?
- Não, comadre, não é nada de doença… É mesmo jogo…
- Ainda bem, compadre.
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