sexta-feira, janeiro 07, 2011

DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS


Episódio Nº 314 e Último


Na manhã clara e leve de um Domingo, os habitues do bar de Mendez, no Cabeça, viram passar dona Flor toda elegante, pelo braço do marido, doutor Teodoro. Ia o casal para o Rio Vermelho, onde tia Lita e tio Porto esperavam para o almoço.

De rosto vivo mas de olhos baixos, discreta e séria como compete a mulher casada e honesta, dona Flor correspondeu aos bons dias respeitosos.

Seu Vivaldo da funerária mediu dona Flor de alto a baixo:

- Nunca pensei que esse doutor Xarope fosse capaz de tanto. Não parece disso e, vai-se ver…

- Disso, o quê? Como farmacêutico bate muito médico… – interrompeu o santeiro Alfredo.

- Reparem nela… Que formosura, que beleza de mulher! Um peixão e se vê que anda contente, que nada lhe falta nem na mesa nem na cama. Até parece mulher de amante novo pondo chifres no marido…

- Não diga isso – protestou Moysés Alves, o perdulário do cacau – se há mulher direita na Bahia é dona Flor.

- Estou de acordo, quem não sabe que ela é mulher honrada? O que eu digo é que esse doutor, com sua cara de palerma, é um finório. Tiro-lhe o chapéu, nunca pensei que ele desse conta do recado. Para um pedaço de mulher assim, tão rebolosa, é preciso muita competência.

Com os olhos acesos completou:

- Vejam como vai se rebolando. A cara séria, mas as ancas – olhem aquilo! – soltas até parece que alguém está bulindo nelas… Um felizardo esse doutor…

Do braço do marido felizardo, sorri mansa dona Flor. Ah!, essa mania de Vadinho a lhe tocar os peitos e os quadris, esvoaçando em torno dela como se fosse a brisa da manhã. Da manhã lavada de Domingo, onde passeia dona Flor, feliz de sua vida, satisfeita de seus dois amores.

E aqui se dá por finda a história de dona Flor e de seus dois maridos, descrita em seus detalhes e em seus mistérios, clara e obscura como a vida. Tudo isso aconteceu, acredite quem quiser. Passou-se na Bahia onde essas e outras mágicas sucedem sem a ninguém causar espanto. Se duvidam perguntem a Cardoso e Sª. e ele lhes dirá se é ou não verdade. Podem encontrá-lo no planeta Marte ou em qualquer esquina pobre da cidade.

FIM

Salvador, Abril de 1966

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