segunda-feira, janeiro 10, 2011

POR ISSO… POR ISSO… POR ISSO...



A língua portuguesa é rica de sinónimos, de frases e expressões idiomáticas e até de simples palavras que ditas com entoação diferente significam coisas diferentes.

Na minha juventude, quando estudava em Lisboa, estava hospedado numa casa particular de duas senhoras, mãe e filha, ambas viúvas, ali ao Príncipe Real, a dois passos da Baixa e a um passo do elevador da Glória que nos levava até lá.

Nessa casa, para além de um colega meu já falecido, vivia também um senhor suíço, cabelos brancos e testa larga, Emílio de seu nome, que nos seus oitenta anos sempre bem dispostos repartia as alegrias da vida pelo seu amor à ópera e aos americanos que tinham libertado a europa do jugo nazi e por quem ele ficara reconhecido para o resto da vida.

No Verão, partia regularmente de férias até à sua Suiça para confraternizar com os seus irmãos, todos mais velhos que ele. Trabalhava na Baixa, numa casa comercial e era poliglota pois os seus oitenta anos tinham sido repartidos em partes sensivelmente iguais pelo seu país, cantão alemão, Itália, França, Espanha e finalmente Portugal, mais ou menos sempre a fugir à guerra embora, da sua vida, pouco ou nada soubéssemos porque ele nada contava… (não era linguareiro como nós).

Dominando fluentemente alemão, italiano, francês, espanhol e português, aprendidos no dia a dia da sua vida em cada um destes países, ele era um curioso e divertido pesquisador de palavras que podem dizer isto, mas também aquilo e aquele outro.

A história que ele contava e terminava com sonoras e prolongadas gargalhadas pondo à mostra o seu luzidio dente de ouro era esta:

“Um jovem namorava uma rapariga visitando-a regularmente em casa dos pais dela como era de bom-tom e se usava nessas épocas mas, ao contrário do que se esperaria, sem qualquer espécie de vigilância. Em vez de olhares atentos, os pais da moça pareciam fazer questão em deixá-los o mais à vontade possível. O rapaz estranhava mas apreciava... dentro dos limites daqueles tempos, já se vê, até que chegámos ao dia do casamento, mais concretamente à noite de núpcias que foi passada em casa dos sogros.

Consumado o casamento e não encontrando o que esperava, o rapaz, agora já marido, levantou-se da cama e em fato de pijama, mãos nos bolsos do casaco, pôs-se a andar no corredor da casa, de um lado para o outro, interrompendo regularmente o “passeio” para suspirar alto e bom som: por isso…por isso… por isso… Mais umas passsadas e tornava: por isso...por isso... por isso...

O sogro que não conseguia dormir com tantos por “issos” levantou-se, encarou o genro e desabafou:

- Por isso, por isso, por isso… Quais por isso nem meios por isso, quando eu casei não encontrei isso e nem por isso me pus com isso.”

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