terça-feira, janeiro 25, 2011

TEREZA
BATISTA

CANSADA

DE

GUERRA


Episódio Nº 13


Depois da cachaça, se despediram. Num táxi, o rábula foi deixar Tereza em casa, esse Libório é um fístula, de cama e mesa com os tiras, e com a polícia não vale a pena facilitar. Da janela do carro ela ainda o viu, mestre Januário Gereba, andando para os lados da ponte onde atracara a barcaça. Era da cor da aurora, na aurora se dissolveu.

Coração em descompasso, o mesmo impacto a deixá-la tímida, sem forças, sem resistência, sentido pela primeira vez há tantos anos no armazém quando enxergou Daniel, anjo saído de um quadro da Anunciação, Dan dos olhos de quebranto. Com quem se parece o caboclo. Parecer não parece mas lembra alguém muito do seu conhecido. Felizmente não recorda anjo saído do quadro, descido do céu; Tereza desde aquele então desconfia de homem com cara de anjo, de voz dolente, a boca súplice, beleza equívoca: podem ser bons de cama, mas são falsos e frouxos.

Sozinha em casa – despediu-se de Lulu Santos, muito obrigada, meu amigo!, sem lhe permitir saltar do automóvel, se ele descesse talvez quisesse ficar – no quarto despido de adornos, na cama estreita de ferro, ao fechar os olhos para chamar o sono, então lembrou-se a quem o mestre de saveiro recorda: recorda-lhe o doutor. Em nada parecidos, sendo um branco fino, rico e letrado, o outro, mulato trigueiro, queimado do vento e do mar, pobre e de pouca leitura, tinham entre si um parentesco, um ar de família, quem sabe, a segurança, a alegria, a bondade? A inteireza de homem.

Mestre Januário Gereba prometera vir buscá-la para lhe mostrar o porto, a barcaça ventania e o começo do mar mais além da cidade. Onde anda ele, que não cumpre a promessa?

6

Lulu Santos aparece a convidá-la para o cinema, doido por filmes de cowboy. Demora-se conversando na varanda aberta à viração do rio, a velha Adriana oferece-lhe mangas ou mungunzá á escolha; ou os dois se assim preferir. Primeiro as mangas sua fruta predilecta, ficando o chá-de-burro para a volta do cinema. Radiante, orgulhosa do quintal atrás da casa, quase um pequeno pomar, Adriana exibe as mangas mais olorosas e belas – espadas, rosas, carlotas, corações-de-boi, corações-magoados.

Quer que eu corte em pedaços?

- Eu mesmo corto, Adriana. Obrigado

Enquanto saboreia a fruta Lulu comenta os recentes acontecimentos:

- Você, Tereza, é um fenómeno. Nem bem chegou a Aracajú e já fez uma porção de apaixonados e de desafectos.

A velha Adriana adora um mexerico:

- Apaixonados, conheço pelo menos um – lança um ar de través ao rábula – mas há alguém que não goste desta menina tão boa?

- Hoje de tarde conversei com uma pessoa que me disse: essa tal de Tereza Batista é um poço de orgulho, metida a besta.

- E quem foi? - quis saber Tereza.

- Veneranda, a nossa ilustre Veneranda, dona do mais afamado açougue de carne fresca da cidade; diz que só fornece file minhon, mas hoje mesmo quis me empurrar um bucho francês já mal cheiroso.

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