TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE GUERRA
Episódio Nº 19
Vou-me bater, vou gritar, clamar por justiça, de que adianta? Se fosse o júri popular, era outra coisa. Mas é um juiz da vara do cível, aliás um sujeito óptimo, que sabe quem é o Libório, tem a certeza que ele adulterou o documento, se pudesse daria ganho de causa à viúva e sapecaria um processo no crápula por adulteração de documentos com fins de roubo, mas como fazê-lo se lá está o papel, as assinaturas das testemunhas, se ninguém pode provar que o zero foi colocado depois?
Toma fôlego, a indignação inflama-lhe o rosto, fazendo-o quase bonito:
- Todo o mundo sabe que se trata de mais uma miséria de Libório, mas nada pode ser feito, ele vai engolir o sítio de Manuel França, a negra Joana vai viver de esmola e eu espero que o miserável do filho, um filho-da-puta, que é o que ele é, meta mesmo uma bala no peito, não merece outra coisa.
Cai o silêncio como uma pedra, por alguns segundos ninguém fala. Os olhos de Tereza se perdem na distância, mas ela não pensa em mestre Januário Gereba, dito Janu por bem-querer, nem nas areias do mar. Pensa na negra Joana das Folhas, dona Joana França, curvada sobre a terra ao lado do marido português, depois sozinha, plantando, colhendo, vivendo de suas mãos, o filho no Rio, na pagodeira, a exigir dinheiro, ameaçando matar-se. Se lhe tomarem o sítio, se Libório ganhar a questão, o que será de Joana das Folhas, onde vai arranjar o necessário para comer, economias para o filho dissipar?
A velha Adriana recolhe os pratos vazios, sai para a cozinha.
- Me diga uma coisa, Lulu… - Tereza está voltando de longe.
- O quê?
- Se dona Joana soubesse ler e escrever o nome, ainda assim esse documento teria valor?
- Se ela soubesse ler, assinar o nome, como assim? Ela não sabe, acabou-se; nunca esteve na escola, analfabeta de pai e mãe.
- Mas se soubesse, o tal documento teria valor?
- É claro que se ela soubesse assinar o nome, o documento teria sido forjado. Infelizmente não é esse o caso.
- Você tem certeza? Acha que não pode ter sido forjado?
Porque você acha isso? Onde é que dona Joana deve provar se sabe ou não assinar o nome? É no juiz?
- Que história é essa de provar se sabe assinar o nome.
- Ficou pensando, de repente deu-se conta: - Documento forjado? Assinar o nome? Estarei entendendo?
- Dona Joana sabe ler e assinar o nome, chega no juiz e diz: esse papel é falso, sei assinar o meu nome. Quer dizer, quem diz isso é você, não é mesmo? Ela só faz assinar.
- E quem diabo vai ensinar Joana das Folhas a assinar o nome em pouco mais de uma semana? Para isso é preciso pessoa capaz e de toda a confiança.
- A pessoa está na frente de seus olhos, é essa sua criada. Que dia é mesmo a audiência?
Então Lulu Santos começou a rir, a rir feito doido; a velha Adriana veio correndo assustada:
- O que é que você tem, Lulu?
Finalmente o rábula se conteve:
- Só quero ver a cara de Libório das Neves, na hora. Tereza, doutora Tereza, honoris causa eu te consagro, suma sabedoria!
Vou para casa matutar nesse assunto, acho que você deu no sete.
Vou-me bater, vou gritar, clamar por justiça, de que adianta? Se fosse o júri popular, era outra coisa. Mas é um juiz da vara do cível, aliás um sujeito óptimo, que sabe quem é o Libório, tem a certeza que ele adulterou o documento, se pudesse daria ganho de causa à viúva e sapecaria um processo no crápula por adulteração de documentos com fins de roubo, mas como fazê-lo se lá está o papel, as assinaturas das testemunhas, se ninguém pode provar que o zero foi colocado depois?
Toma fôlego, a indignação inflama-lhe o rosto, fazendo-o quase bonito:
- Todo o mundo sabe que se trata de mais uma miséria de Libório, mas nada pode ser feito, ele vai engolir o sítio de Manuel França, a negra Joana vai viver de esmola e eu espero que o miserável do filho, um filho-da-puta, que é o que ele é, meta mesmo uma bala no peito, não merece outra coisa.
Cai o silêncio como uma pedra, por alguns segundos ninguém fala. Os olhos de Tereza se perdem na distância, mas ela não pensa em mestre Januário Gereba, dito Janu por bem-querer, nem nas areias do mar. Pensa na negra Joana das Folhas, dona Joana França, curvada sobre a terra ao lado do marido português, depois sozinha, plantando, colhendo, vivendo de suas mãos, o filho no Rio, na pagodeira, a exigir dinheiro, ameaçando matar-se. Se lhe tomarem o sítio, se Libório ganhar a questão, o que será de Joana das Folhas, onde vai arranjar o necessário para comer, economias para o filho dissipar?
A velha Adriana recolhe os pratos vazios, sai para a cozinha.
- Me diga uma coisa, Lulu… - Tereza está voltando de longe.
- O quê?
- Se dona Joana soubesse ler e escrever o nome, ainda assim esse documento teria valor?
- Se ela soubesse ler, assinar o nome, como assim? Ela não sabe, acabou-se; nunca esteve na escola, analfabeta de pai e mãe.
- Mas se soubesse, o tal documento teria valor?
- É claro que se ela soubesse assinar o nome, o documento teria sido forjado. Infelizmente não é esse o caso.
- Você tem certeza? Acha que não pode ter sido forjado?
Porque você acha isso? Onde é que dona Joana deve provar se sabe ou não assinar o nome? É no juiz?
- Que história é essa de provar se sabe assinar o nome.
- Ficou pensando, de repente deu-se conta: - Documento forjado? Assinar o nome? Estarei entendendo?
- Dona Joana sabe ler e assinar o nome, chega no juiz e diz: esse papel é falso, sei assinar o meu nome. Quer dizer, quem diz isso é você, não é mesmo? Ela só faz assinar.
- E quem diabo vai ensinar Joana das Folhas a assinar o nome em pouco mais de uma semana? Para isso é preciso pessoa capaz e de toda a confiança.
- A pessoa está na frente de seus olhos, é essa sua criada. Que dia é mesmo a audiência?
Então Lulu Santos começou a rir, a rir feito doido; a velha Adriana veio correndo assustada:
- O que é que você tem, Lulu?
Finalmente o rábula se conteve:
- Só quero ver a cara de Libório das Neves, na hora. Tereza, doutora Tereza, honoris causa eu te consagro, suma sabedoria!
Vou para casa matutar nesse assunto, acho que você deu no sete.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home