sábado, fevereiro 26, 2011


TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA

Episódio Nº 41


Tímida para uma estrela, um tanto encabulada, sorriso medroso, ai tão linda!

Todos a crer fosse ela recente conquista do rábula aleijado e mulherengo, apenas o meritíssimo sabia da façanha – façanha ou milagre? – da improvisada professora de primeiras letras alfabetizando Joana das Folhas, idosa lavradora de mãos de raízes. Os olhos de admiração do doutor juiz cresceram de imediato em olhos de devoção e desejo: ah! fosse ele desembargador no tribunal de Justiça do estado e lhe ofereceria lar e carinho, mas com os estipêndios de juiz de direito mal chegando para a família legalmente constituída, para a casa civil, como pensar em amásia, amante, amiga, casa militar?

No mar de aplausos a artista Tereza Batista, iniciando-se em trajectórias de altos e baixos, mas de estreia triunfal. Gélido coração, ostra encerrada em si mesmo. Ah! se pudesse chorar – moleque não chora nem marinheiro tampouco! Águas do mar de ausência, amor de náufragos. Onde andará mestre Januário Gereba, Janu do bem-querer, na rota do cais da Bahia?

Solta Tereza a bunda como ele lhe ensinou, ancas de profundas vagas marinhas, o ventre de vaivém, a semente do umbigo, caule e flor. Frio coração, gelo e distância, ai Januário Gereba, gigante do mar, urubu-rei a voar sobre as ondas na tempestade, quando outra vez te verei, em teu peito a provar gosto de sal e maresia, morrendo em teus braços, afogada em teu peito, ai Januário Gereba, mestre Janu de bem-querer, ai, amor, quando outra vez?


A MENINA QUE SANGROU O CAPITÃO COM A FACA DE CORTAR CARNE SECA

1

O distinto é um porreta, fez e aconteceu, não me cabe duvidar, mas eu lhe pergunto se já viu alguma vez um cristão papocado de bexiga, as carnes comidas, aberto em chagas, ser metido num saco e levado para o lazareto. Me diga se já carregou nas costas, por uma boa légua de caminho, um bexiguento nas vascas da agonia, e o transportou até ao lazareto, a federativa pesteando o ar, o mel do pus escorrendo na aniagem. Coisa de ver, camarada.

Acredite quem quiser, doa a quem doer, abaixo de Deus foram as putas e mais ninguém que acabaram com a bexiga quando ela se soltou negra e podre por essas bandas. Abaixo de Deus é maneira de dizer, modo de falar, pois isso aqui é terra abandonada e safara, fim de mundo, e se não fossem as desinfelizes da Rua do Cancro Mole, não teria ficado rastro de vivente para contar a história.

Deus, cheio de missas e afazeres, com tanto lugar bonito onde pousar os olhos, porque havia de se ocupar dos bexiguentos de Buquim? Quem cuidou e resolveu foi mesmo a citada Tereza Batista, de alcunha Tereza Navalhada, Tereza do Bamboleio, Tereza dos Sete Suspiros, Tereza do Pisar Macio, nomes todos eles merecidos, como merecido foi o de Tereza de Omolu, oferta e confirmação dos macumbeiros de Muricapeba assim a praga terminou e se viu o povo de regresso às suas casas.

Tereza comeu a bexiga por uma perna, mastigou e cuspiu. Mastigou com aqueles dentes limados e com o dente de ouro, presente de um dentista de Aracajú, uma beleza.


Site Meter