domingo, abril 24, 2011

HOJE É


DOMINGO



(Da minha cidade de Santarém)




Costuma dizer-se que cada povo tem os governantes que merece e eu acrescentaria que os bons governantes podem ajudar a fazer bons governados porque os exemplos devem vir de cima: exemplos e estímulos de trabalho, disciplina e seriedade.

A realidade é que Portugal não tem hoje bons governantes: Sócrates, Passos Coelho, Paulo Portas, Cavaco Silva terão, concerteza, muitas qualidades mas não têm sido bons governantes porque não têm posto o interesse do país, dos portugueses de hoje e das próximas gerações, em primeiro lugar, acima de interesses pessoais, político/partidários e clientelas.

É verdade que a Europa também não está bem servida: Merkel, Sarkozi, Berlusconi, principais responsáveis pela continuidade do projecto europeu são autênticos fracassos, são vulgares, medíocres, não têm dimensão humana, intelectual e política para cargos de tanta responsabilidade. A construção de uma europa unida era e é um projecto arrojado, ambicioso, muito difícil dados os antecedentes históricos dos países que a compõem.

Para tal necessitava-se de líderes de grande capacidade de liderança e de grande visão para o futuro, capazes de explicar e fazer. Em vez deles, temos o que temos: parecem decidir só para o imediato, o curto prazo e falta-lhes coragem e estratégia para afrontarem o grande capital financeiro especulativo que arruína e explora países e multidões na Europa e em qualquer parte do mundo.

Mas eu tenho a percepção que o problema está para além das pessoas, dos líderes, dos de cá e dos de lá. Radica num estilo e numa forma de viver, numa maneira de procurarmos ser felizes de há muito tomada, que vem de longe mas se acentuou nos últimos anos e com ela nos estamos a arrastar, a nós e ao planeta em que vivemos, para um beco sem saída.

Quando no final dos anos setenta começaram a entrar nas nossas vidas os grandes espaços comerciais em substituição das velhas mercearias e das outras lojas, cada uma da sua especialidade, quando, pela primeira vez, deparámos com aquelas superfícies enormes, quilómetros de prateleiras, umas a seguir às outras, secções atrás de secções, milhares de produtos… dava para perceber que havia ali uma mensagem sublimar de convite ao consumo, uma espécie de insinuação de que a felicidade se adquiria simultaneamente com todos aqueles objectos e cada um deles.

A felicidade ilusória da posse, (compro um carro novo e sou feliz…) do consumo, contra o qual o movimento hippie procurou lutar no início dos anos sessenta proclamando, no seu lugar, a paz e o amor.

Prevaleceu a mensagem do “consumo” com estímulos que vêm de todo o lado, entram-nos pelos olhos e ouvidos, seduzem-nos, submetem-nos, escravizam-nos.

Toda a sociedade se estruturou para o consumo na apropriação de bens e na posse das fontes de matérias-primas.

Por ele, fizeram-se e fazem-se guerras e o planeta está a esgotar-se: recursos naturais, florestas, rios, mares, o ar que respiramos, tudo “arrastado” pela onda do consumo, e uma humanidade em polvorosa, gritantes desigualdades, sede de justiça e uma contínua e insaciável avidez pelo consumo… beco sem saída?

… E nós aqui, para sobrevivermos no dia-a-dia, vamos negociar um apoio sem termos outra alternativa e sem sabermos se algum dia o poderemos satisfazer, nem como o vamos cumprir, se é que vamos… outro beco sem saída?

Poderia esta situação alguma vez ter sido diferente?

- Lembro-me sempre da história do elefante e do lacrau que o matou com uma picada venenosa quando este, altruisticamente, o transportava no dorso para o outro lado do rio.

- Por que fizeste isto se agora vais também morrer afogado, pergunta-lhe o elefante no estertor da morte:

- O que queres?... é a minha natureza!

Sabemos de sociedades pacíficas, pequenas comunidades de pessoas ditas primitivas, dotadas de saberes e capacidades especiais, que nada têm, nada consomem e são felizes… conheci-os, no sul de Angola, os bosquímanes, de ar risonho e aspecto de meninos crescidos. Há cinquenta anos, na parede da sala da Associação Académica do meu Instituto, emoldurada, estava a fotografia de uma linda jovem bosquímane. Mas, no seu estilo de vida, nunca teríamos ido à lua e não contaríamos histórias por computador.

Lembro-me, também, da aldeia comunitária de Rio de Onor, atravessada pela fronteira norte, no distrito de Bragança, e na qual as terras, rebanhos e fornos são partilhados por todas as pessoas que desenvolvem um trabalho conjunto de entreajuda.

Conviver e competir, repartir e disputar, maneiras diferentes de viver… a maior parte do mundo especializou-se na competição e na disputa, muita dela feroz e sem olhar a meios, e quem não for capaz de competir “morre”. Nós próprios, dizem, não somos competitivos…

Infelizmente, parece que o caminho há muito está traçado… continuando neste crescimento demográfico e persistindo como "máquinas" de consumo, alimentamos, sem querer, o processo que está a destruir o planeta e a nós próprios…

A humanidade, toda ela, precisa de ir de férias para pensar.

Para todos um Bom Domingo.

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