quarta-feira, abril 06, 2011

TEREZA

BATISTA


CANSADA


DE


GUERRA


Episódio Nº 74

Vou te ensinar o medo, tu vai ter tanto medo a ponto de adivinhar os meus desejos com todas as outras ou mais depressa ainda. Pára de bater, foi uma boa lição, mas por que esta filha-da-puta não chora? Tereza tenta esgueirar-se não consegue; o capitão a segura torce-lhe o braço.
A menina aperta os dentes e os lábios, a dor a atravessa, o homem vai lhe quebrar o braço; não há-de chorar, guerreiro não chora nem na hora da morte. Um raio de lua penetra na mansarda pelo buraco da janela condenada – pequeno de mais para tamanha judiação. Na dor do braço torcido, Tereza afrouxa, cai deitada de costas – aprendeu, papuda? De pé, ante a menina caída, o capitão pingando suor, arranhado na perna, ferido no rosto, ri vitorioso; antes xingasse, o riso dele é sentença fatal.
Solta o braço de Tereza; derrotada não oferece mais perigo. Na raiva, o capitão terminara batendo por bater, maltratando por maltratar; na indignação esquecera o principal e, em vez de se excitar, findara a luta de estrovenga murcha.
O raio de lua sobre a coxa descoberta reacende o desejo em Justiniano Duarte Rosa. Aperta os olhos miúdos, retira a cueca, balança os bagos sobre a menina: veja, minha filha, tudo isto é seu, vamos, tire o vestido, depressa tire o vestido, o capitão acompanha o gesto de obediência, dominou a rebeldia da endemoniada.
Mais depressa, ande, tire o vestido, assim submissa dá gosto: mais depressa, vamos! Em vez, Tereza apoia a mão no piso, se levanta num salto de moleque, novamente erguida no canto da parede. O capitão perde a cabeça, vou te ensinar, cachorra! Dá um passo, recebe o pé de Tereza nos ovos, dor mais sem jeito, dor mais pior, solta um grito medonho, se torce e contorce.
Tereza alcança a porta, bate com os punhos, pede socorro, por amor de Deus me acudam, ele quer-me matar. Ali mesmo recebe a primeira mordida da taca de couro cru. Taca feita de encomenda, sete cordas de couro de boi, trançadas, tratadas a sebo, em cada corda dez nós.
Enlouquecido, em fúria, na dor desmedida, o capitão só pensa em bater. A taca atinge Tereza nas pernas, no ventre, no peito, nos ombros, nas costas, na bunda, nas coxas, na cara, a cada chicotada dos sete chicotes, a cada dentada dos nós um lenho, um rasgão, uma posta de sangue. O couro é faca afiada, zunem os chicotes no ar. Arfante, cego de ódio, o capitão surra como jamais surrou, nem a negrinha Ondina apanhou tanto assim.
Tereza defende a face, as mãos em chaga, não há de chorar, mas os gritos e as lágrimas soltam-se e rolam independentemente da sua vontade, não basta querer: Tereza urra de dor, ai! Pelo amor de Deus! Do quarto vizinho chegam as pragas malucas de dona Brígida, inúteis, não acalmam o capitão, não consolam Tereza, não despertam vizinhos nem a justiça de deus.
Incansável capitão: Tereza rola semimorta, o vestido empapado de sangue, o capitão continua a bater um bom pedaço de tempo. Aprendeu cachorra? Com o capitão Justo ninguém se atreve e quem se atreve apanha. Para aprender a ter medo, a obedecer.
Ainda de taca em punho, Justiniano Duarte Rosa se curva, toca o corpo largado, a carne de menina. Um resquício de desejo volta a nascer nos quibas doidos, sobe-lhe corpo acima, reanima-lhe a verga, restabelece a vergonha e o orgulho. Sente um frio no rabo, resto fino de dor, mas não há-de ser nada, não vai impedir o capitão de iniciar a cobrança do conto e quinhentos.
A menina geme, um choro de resmungos, demónia. Justo mete a mão, rasga-lhe o vestido de alto a baixo, sangue no tecido, sangue na carne dura, tensa. Toca o bico dos peitos, ainda não são peitos, são formas nascentes, as ancas apenas se arredondam, tão-somente um começo de mulher, um início, menina por demais verde, bem ao gosto do capitão, melhor não podia ser. Um cão do inferno, mas formosa pintura, petisco de rei, cabaço tão virgem nunca se viu.
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