quinta-feira, abril 14, 2011

TEREZA


BATISTA



CANSADA


DE


GUERRA



Episódio Nº 81




Tal veemência de desejo não o impedia de dormir com outras. Houve ocasião de duas hóspedes, ao mesmo tempo, contemporâneas na roça e na cidade, além de Tereza, e de procurá-las a todas no mesmo dia. Um garanhão retado, um pai-d’égua, e Aírton Amorim, incorrigível farsante, a acusá-lo de impotente; nem a confirmação do meritíssimo juiz convence o promotor, esse tal de Marañon não passa de uma besta.

Quando Tereza Batista veio do casarão da roça para a casa do armazém, posta ante uma pequena mesa a fazer contas, curiosos circularam na rua para lobrigar “a nova amiga do capitão, vale a pena!” Na cidade, as raparigas de Justiniano Duarte da Rosa eram debatidas no parlamento das comadres, na tertúlia dos letrados. Uma delas, Maria Romão, causou intenso rebuliço ao ser vista de braço dado com o capitão na calçada do cinema, rolando ancas fartas e busto soberbo; logo se soube da conta aberta para a mulata na loja de Enock, acontecimento inédito, digno de notícia nos jornais da capital.

Alta, trigueira, de cabelos lisos, uma estátua. Estranhamente não era menina nova, já completara dezanove anos quando o capitão Justo a adquiriu numa leva de paus-de-arara trazidos do alto sertão, destinados às fazendas do sul. Um colega de patente de Justiniano Duarte da Rosa, o capitão Neco Sobrinho, mercadejava sertanejos, arrebanhando-os na seca para vendê-los em Goiás, negócio seguro, lucro certo. De passagem e necessitando de mantimentos, trocou Maria Romão por carne seca, feijão, farinha e rapadura. De conta aberta em loja, Maria Romão foi a primeira e a derradeira. Xodó poderoso, atirado despudoradamente às fuças da população, durou pouquíssimo, não dobrou a semana.

Não era o capitão dado a confidências, ao contrário, de natural reservado, inimigo de fuxicos e fuxiqueiros. No entanto, ao despedir Maria Romão, tendo sido interrogado pelo amigo doutor Eustáquio Fialho Gomes Neto sobre a veracidade da notícia a circular nas ruas, não se negou a prestar-lhe sincera informação. O juiz, novo na comarca, a família na capital, impossibilitado pelo cargo de frequentar mulher dama, buscava rapariga para quem montar casa e Maria Romão parecera-lhe talhada a dedo para a emergência.

- É verdade o que falam, capitão? Que aquela moça Romão já não está em sua companhia?

- É facto, sim. Troquei toda aquela fachada por uma pequerrucha raquítica que Gabi recebeu de Estância, da fábrica de tecidos – fez pausa, completou: - Gabi pensa que me enrolou. Ainda está para nascer quem engane capitão Justo seu doutor!

- Trocou, capitão? Trocou, como? – O Juiz instruía-se sobre costumes da terra e do capitão.

- Faço uma barganhas com Gabi, seu doutor. Quando ela tem novidade me avisa; se gosto, troco, compro, alugo, faço qualquer transacção. Quando enjoo da bichinha a gente negocia de novo.

- Entendo – Ainda não entendia direito, ia aprender com o tempo: - Quer dizer que a moça está livre, quem quiser…

- É só falar com Gabi. Mas, se mal lhe pergunto, o doutor está interessado nela para quê?

O juiz explicou seu problema; com o capitão a quem viera recomendado por amigos poderosos poderia se abrir. Com os filhos estudando na Bahia, a esposa demorava-se mais pela capital do que mesmo em companhia do marido. Ia e vinha, ele também quando possível…

- Despesa danada! – disse o capitão, e assobiou entre os dentes.

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