segunda-feira, abril 18, 2011

TEREZA

BATISTA


CANSADA


DE


GUERRA


Episódio Nº 84


Por lembrar-se de Dóris ou apenas por malvadez, às vezes o capitão empurrava-lhe o pé, derrubando-a no chão; porque não beija, não faz um agrado peste? Outras melhores fizeram. Mandava-lhe o pé na cara: orgulhosa de merda! Empurrões e pontapés, desnecessários, de pura ruindade; bastava o capitão mandar, Tereza engolia orgulho e repugnância, lambia-lhe os pés e o resto. Jamais sentiu Tereza o mínimo prazer, o mínimo desejo ou interesse; todo e qualquer contacto físico com Justiniano Duarte Rosa foi moléstia e asco e só por medo concedeu e fez – fêmea à disposição, cordata e pronta.
Nesse período da sua vida, os assuntos da cama e sexo significaram para Tereza apenas dor, sangue, sujeira, amargura, servidão. Nem sequer imaginava pudessem tais coisas conter alegria, reciprocidade no prazer ou simplesmente prazer – sendo Tereza apenas vaso onde descarregar o capitão, nela vertendo seu desejo como vertia urina no penico. Que pudesse ser de outra maneira, com carinho, carícias, gozo, nem lhe passava pela cabeça.
Porque sua tia Filipa se trancava com homens, não entendia. Desejo, ânsia, ternura, alegria não existiam para Tereza Batista. Jamais lhe pediu fosse o que fosse, orgulhosa de merda, inconsciente porém do seu orgulho. Justiniano lhe deu vestidos do enxoval de Dóris, o par de sapatos vindo da loja Enock, um ou outro penduricalho barato em dias de grande satisfação quando um galo de sua propriedade deixava o adversário morto na rinha, rasgado pelos esporões de ferro. Nem essas raras lembranças alteraram o único sentimento poderoso de Tereza, o medo.
Ao adivinhar a ira na voz ou nos gestos do capitão, imediatamente volta-lhe a sensação da morte na sola dos pés e sente o mesmo frio de terror que a atravessara ao vê-lo de ferro de engomar na mão, as chispas voando. Basta ouvi-lo alterar a voz, descontente, gritar um nome feio, rir o riso curto, e o frio de morte aperta o coração de Tereza Batista, queima-lhe a sola dos pés com ferro em brasa.
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E o capitão Justo, sabia ele serem as mulheres, tanto quanto os homens, capazes do prazer? Talvez o soubesse mas o assunto pouco lhe interessava; nunca se preocupou em compartir desejo e gozo com parceira de cama. Posse mútua, sensações recíprocas, gozo em comum, conversa fiada de uns mofinos de muita pabulagem e pouca resolução.
Fêmea é para ser possuída, e acabou-se. Para o capitão boa de cama é aquela que, por verde donzela, por inexperiente e medrosa menina ou por capaz e sabida marafona, lhe excite o desejo. Como era de público conhecimento, ele as preferia novinhas, a ponto de coleccionar num colar as menores de quinze anos cujos tampos colhera. Nunca pretendeu retirar da mulheres senão prazer para si próprio, exclusivo.
Dava-se conta, é claro, de como algumas eram mais ardentes e sôfregas, mais participantes. Assim fora Dóris, consumida em febre; nem no castelo de Veneranda entre as gringas, sentia-se o capitão satisfeito ao constatar ânsia e veemência, atribuindo o facto às suas qualidades viris, garanhão capaz de passar a noite inteira desfolhando um cabaço, de atravessar madrugada com mulher-dama habilidosa. As fontes de sua exaltação não estavam no prazer e no apego das parceiras. Inclusive irritava-se fácil quando uma mais dengosa, por se dar apaixonada, requeria reciprocidade, atenção e carinho; onde se viu? Macho deveras não adula mulher. (clik na imagem para aumentar)

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