quinta-feira, abril 07, 2011


TEREZA


BATISTA


CANSADA


DE


GUERRA


Episódio Nº 75
Desce a mão para os pêlos raros, negros, sedosos, no ventre pequeno, passa a língua nos beiços, estende o dedo para atingir o mistério da rosa em botão; mais além da dor, da raiva, o capitão restabelecido em desejo, disposto e apto, de estrovenga armada, vai começar a função. Mas a demónia fecha as pernas tranca as coxas. Onde encontra ideia e decisão? Tenta a capitão descruzar, não existe força humana capaz de fazê-lo. Outra vez a raiva ergue a taca na mão de Justiniano Duarte da Rosa, perseguido pelo cão em noite de núpcias. Põe-se de pé e bate. Bate com desespero, bate para matar. Para ser obedecido quando ordena e deseja. Sem obediência o que será do mundo? Os uivos de dor vão se perder na mata para onde fugiu dona Brígida, de neta nos braços. O capitão só pára de bater quando Tereza deixa de gritar, posta inerte de carne. Descansa um instante, larga a taca no chão, descruza-lhe as pernas, toca o recôndito segredo. Ainda tenta a menina um movimento, dois tapas na cara acabam de acomodá-la. O capitão ama descabaçá-las ainda verdes, com cheiro e gosto de leite. Tereza com gosto de sangue.
16
Quando a baça luz da antemanhã conseguiu penetrar através das frestas da janela condenada, Tereza, rota, lascada ao meio, dolorida em cada partícula do seu ser, arrastou-se até à borda do colchão, bebeu em dois golos o resto da água da caneca. Num esforço conseguiu sentar-se, os roncos do capitão fizeram-na estremecer. Não pensava em nada, apenas tinha ódio. Até então fora risonha e brincalhona, muito dada e festiva, amiga de todo o mundo, doce menina. Naquela tarde e naquela noite aprendeu o ódio, de vez e inteiro. O medo ainda não. De gatas saiu do colchão, foi até ao penico, gemeu de dor ao sentar-se. Ao som da urina o capitão acordou. Queria tê-la desperta, não uma posta de carne morta. Queria vê-la receber a estrovenga, o corpo vibrando na resistência e na dor. Ouvi-la urinar excitava-o loucamente.
- Deita, vamos folgar. Puxou Tereza pela perna, derrubando-a a seu lado, mordeu-lhe os lábios, nos ovos o desejo se impunha sobre a dor pertinaz e encoberta. Não tranque as coxas se não quiser morrer de apanhar. Pois a maldita não só trancou coxas e lábios, fez pior: meteu a mão no colar, um puxão no fio de ouro, rolaram as argolas pelo quarto, cada argola um tampo de menina colhido ainda verde.
Maldição! De um salto, levantou-se o capitão, esquecido dos quibas, dor no rabo e no coração – não havia nada no mundo, pessoa, animal ou objecto, de maior valia ou estima, para Justiniano Duarte da Rosa, nem a filha pequena, nem o galo Claudinor, campeão de raça pura japonesa, nem a pistola alemã, nada tão precioso quanto o colar dos cabaços. Na mesma noite os bagos e o colar, ah! Demónia! Demónia filha-da-puta, tu não aprendeu ainda, vai aprender. Vai catar as argolas uma a uma na música da taca. Vamos! As argolas, uma a uma! De taca na mão, cego de raiva, um incómodo nos ovos, aperreio medonho! Surra de criar bicho, de arriar os quartos, só faltou mesmo matar. Matilhas de cães respondiam na distância aos uivos de Tereza: toma, cadela, para aprender. Deixou-a desacordada mas quem recolheu as argolas foi o capitão.
Quando terminou de juntá-las, o próprio capitão sentiu-se enfarado, de braço farto, por pouco desloca a munheca, sem falar na persistente sensação de peso no saco-da-vida. Jamais batera tanto em alguém, tinha gosto em bater, divertido passatempo, mas dessa vez abusara, esta bicha sediosa, ruim de domar.

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