TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 111
- Para quem é o presente, então?
- Para uma desimpedida, sem eira nem beira, sem enredo e sem arenga, fique tranquilo.
- Outra coisa: sua mãe mora na Bahia por causa de vocês. Por meu gosto viveria aqui, mas ela não pode deixar sua mãe sozinha.
- Verinha? – Riu Daniel: - Paterno, acredite no que lhe vou dizer: Verinha é a melhor cabeça da família. Decidiu que vai casar com milionário, considera o facto consumado, quando Verinha quer uma coisa, ela a obtém. Por Verinha não se preocupe.
Para a respeitabilidade do meritíssimo, Daniel era um tanto cínico demais. Dona Beatriz voltou à sala trazendo uma pequena figa encastoada em ouro. Serve, meu filho? Perfeita, Mater, merci.
No beco, no canto do portal, brinca com a figa no bolso da capa. Acende mais um cigarro, as ráfagas da chuva lavam-lhe o rosto. Na rua da frente se extingue a grande fogueira das irmãs Morais, já não se ouve o crepitar das achas da lenha no fogo renovado pela criadagem. Na noite milagrosa de São João solitárias no chalé ante a mesa posta com canjica e pamonha, manuês e licores, as quatro irmãs à espera também. A chuva pesada impede as visitas; as comadres, vagos parentes, algumas amizades. E Daniel? Em diversas casas de família realizam-se assustados, em qual deles dançará Daniel? Ou recebeu convite para o fandango de Raimundo Alicate? Daniel pensa nas quatro irmãs, simpáticas as quatro nos impacientes limites da última esperança, a mais moça ainda desejável, de seios acesos; amanhã com certeza irá visitá-las, comer canjica em companhia das quatro, com as quatro namorar timidamente, Magda, Amália, Berta, Teodora, sua perfeita cobertura. A chuva escorre pelo rosto do rapaz; não conservasse na boca o gosto de Tereza, não houvesse sentido junto ao peito o estremecer do corpo esguio, visto nos olhos húmidos o repentino fulgor, já teria ido embora.
O ouvido atento percebe por fim o ruído do motor do caminhão, parado diante do armazém: o capitão vai partir, vai com atraso, o filho da mãe. Logo a luz dos faróis surge na esquina, rompendo o escuro, desaparece na chuva. Daniel gasta outro cigarro americano, de contrabando. Abandona o abrigo do portal, vem para mais perto, de onde possa enxergar, a chuva o envolve, ensopa-lhe os caracóis. Abre-se uma nesga no portão do quintal do armazém. Daniel divisa o rosto molhado, os cabelos corridos pingando água, a face de Tereza Batista. (clik na imagem e aumente)
DE
GUERRA
Episódio Nº 111
- Para quem é o presente, então?
- Para uma desimpedida, sem eira nem beira, sem enredo e sem arenga, fique tranquilo.
- Outra coisa: sua mãe mora na Bahia por causa de vocês. Por meu gosto viveria aqui, mas ela não pode deixar sua mãe sozinha.
- Verinha? – Riu Daniel: - Paterno, acredite no que lhe vou dizer: Verinha é a melhor cabeça da família. Decidiu que vai casar com milionário, considera o facto consumado, quando Verinha quer uma coisa, ela a obtém. Por Verinha não se preocupe.
Para a respeitabilidade do meritíssimo, Daniel era um tanto cínico demais. Dona Beatriz voltou à sala trazendo uma pequena figa encastoada em ouro. Serve, meu filho? Perfeita, Mater, merci.
No beco, no canto do portal, brinca com a figa no bolso da capa. Acende mais um cigarro, as ráfagas da chuva lavam-lhe o rosto. Na rua da frente se extingue a grande fogueira das irmãs Morais, já não se ouve o crepitar das achas da lenha no fogo renovado pela criadagem. Na noite milagrosa de São João solitárias no chalé ante a mesa posta com canjica e pamonha, manuês e licores, as quatro irmãs à espera também. A chuva pesada impede as visitas; as comadres, vagos parentes, algumas amizades. E Daniel? Em diversas casas de família realizam-se assustados, em qual deles dançará Daniel? Ou recebeu convite para o fandango de Raimundo Alicate? Daniel pensa nas quatro irmãs, simpáticas as quatro nos impacientes limites da última esperança, a mais moça ainda desejável, de seios acesos; amanhã com certeza irá visitá-las, comer canjica em companhia das quatro, com as quatro namorar timidamente, Magda, Amália, Berta, Teodora, sua perfeita cobertura. A chuva escorre pelo rosto do rapaz; não conservasse na boca o gosto de Tereza, não houvesse sentido junto ao peito o estremecer do corpo esguio, visto nos olhos húmidos o repentino fulgor, já teria ido embora.
O ouvido atento percebe por fim o ruído do motor do caminhão, parado diante do armazém: o capitão vai partir, vai com atraso, o filho da mãe. Logo a luz dos faróis surge na esquina, rompendo o escuro, desaparece na chuva. Daniel gasta outro cigarro americano, de contrabando. Abandona o abrigo do portal, vem para mais perto, de onde possa enxergar, a chuva o envolve, ensopa-lhe os caracóis. Abre-se uma nesga no portão do quintal do armazém. Daniel divisa o rosto molhado, os cabelos corridos pingando água, a face de Tereza Batista. (clik na imagem e aumente)
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home