TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 120
Ademais, quem sabe não aparece antes da viagem do capitão outra oportunidade de se encontrarem? Na noite de São Pedro, por exemplo? Não fale em matar-se, não seja louca, menina, o mundo é nosso e se por acaso um dia o bestalhão nos surpreender, não tenho medo – Daniel lhe dará severa lição para ele aprender a carregar os chifres com a devida cortesia e jubilosa modéstia.
De tudo quanto ouviu só uma coisa pareceu a Tereza realmente importante: o capitão ia viajar, viajem demorada à capital, dez a quinze dias, dez, quinze noites de amor. Toma das mãos de Daniel e as beija de agradecida. Para Daniel, o mais sério detalhe a resolver era Chico Meia-Sola. Como agir? Comprando-o com boas gorjetas? Gorjeta, não, anjo do Céu. Nenhuma gorjeta pagará a fidelidade de Chico a Justiniano, mas não considerasse o cabra um problema: dormia no armazém durante as viagens do capitão, o resto da casa entregue aos cuidados de Tereza. Entretanto Daniel pelo portão do quintal, usando os amantes o quarto do casal, o mais distante do armazém, Chico de nada se dará conta. Está vendo? Tudo a nosso favor, basta não deixar nascer no espírito de Justiniano a menor suspeita. A menor, entende, Tereza? Entendia, não lhe dará razão de desconfiança, nem que para isso tenha que fazer das tripas coração.
Do meio para o fim da conversa, as mãos de Daniel voltam a percorrê-la, pousando em cada saliência ou reentrância, em lenta, demorada, contínua carícia, ânsia subterrânea. Ainda perturbada pelos pensamentos e pelas palavras, Tereza se fecha e se abre no medo, no ódio, no desespero, na esperança, no amor.
Tendo dito o necessário, Daniel trás a boca para o seio de Tereza e o contorna com a língua; avança pelo colo, pelo pescoço, pela nuca, para alcançar a orelha, depois os lábios. Tudo começa de novo; mil vezes recomeçaremos, querida, de ti nunca me cansarei; outras noites virão. Que bom, meu amor!, disse Tereza.
Daniel a quis montada por cima. Assim Tereza não fizera antes, não tendo a capitão mandado – mulher a cavalgá-lo jamais, macho que se preza não é matungo de fêmea. Montada em ginete fogoso, partiu Tereza Batista da forca para a liberdade. Por cima do anjo via-lhe o rosto a sorrir, os anelados cabelos, os olhos de quebranto, a face incandescente. Galopou nos campos da noite, no rumo da aurora. Quando rolou desfeita ainda pôde sentir o inebriante perfume no suor da montaria – cavalo, anjo, homem, seu homem.
39
No romper da madrugada, Daniel se despediu no portão, num beijo de línguas, dentes e suspiros. De volta a casa, sozinha, Tereza foi bombear água para a caixa do banheiro, tinha o corpo perfumado com o suor de Daniel, lavou-se com sabão de coco. Quem lhe dera poder guardar na pele aquele doce aroma, mas o capitão tinha faro de caçador e ela devia enganá-lo para outra vez merecer a visita do anjo. Despia-se do perfume mas conservava o gosto do rapaz na boca, no seio, no lóbulo da orelha, no ventre, no tufo negro, no fundo do corpo. Antes mesmo do banho, Tereza varrera o estreito cubículo, trocara o lençol, deixando a porta aberta para o vento da manhã espalhar o odor de tabaco e os ecos da alegria da noite – sobre o sórdido colchão de triste memória acendera-se o arco-íris. (clik na imagem e aumente)
De tudo quanto ouviu só uma coisa pareceu a Tereza realmente importante: o capitão ia viajar, viajem demorada à capital, dez a quinze dias, dez, quinze noites de amor. Toma das mãos de Daniel e as beija de agradecida. Para Daniel, o mais sério detalhe a resolver era Chico Meia-Sola. Como agir? Comprando-o com boas gorjetas? Gorjeta, não, anjo do Céu. Nenhuma gorjeta pagará a fidelidade de Chico a Justiniano, mas não considerasse o cabra um problema: dormia no armazém durante as viagens do capitão, o resto da casa entregue aos cuidados de Tereza. Entretanto Daniel pelo portão do quintal, usando os amantes o quarto do casal, o mais distante do armazém, Chico de nada se dará conta. Está vendo? Tudo a nosso favor, basta não deixar nascer no espírito de Justiniano a menor suspeita. A menor, entende, Tereza? Entendia, não lhe dará razão de desconfiança, nem que para isso tenha que fazer das tripas coração.
Do meio para o fim da conversa, as mãos de Daniel voltam a percorrê-la, pousando em cada saliência ou reentrância, em lenta, demorada, contínua carícia, ânsia subterrânea. Ainda perturbada pelos pensamentos e pelas palavras, Tereza se fecha e se abre no medo, no ódio, no desespero, na esperança, no amor.
Tendo dito o necessário, Daniel trás a boca para o seio de Tereza e o contorna com a língua; avança pelo colo, pelo pescoço, pela nuca, para alcançar a orelha, depois os lábios. Tudo começa de novo; mil vezes recomeçaremos, querida, de ti nunca me cansarei; outras noites virão. Que bom, meu amor!, disse Tereza.
Daniel a quis montada por cima. Assim Tereza não fizera antes, não tendo a capitão mandado – mulher a cavalgá-lo jamais, macho que se preza não é matungo de fêmea. Montada em ginete fogoso, partiu Tereza Batista da forca para a liberdade. Por cima do anjo via-lhe o rosto a sorrir, os anelados cabelos, os olhos de quebranto, a face incandescente. Galopou nos campos da noite, no rumo da aurora. Quando rolou desfeita ainda pôde sentir o inebriante perfume no suor da montaria – cavalo, anjo, homem, seu homem.
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No romper da madrugada, Daniel se despediu no portão, num beijo de línguas, dentes e suspiros. De volta a casa, sozinha, Tereza foi bombear água para a caixa do banheiro, tinha o corpo perfumado com o suor de Daniel, lavou-se com sabão de coco. Quem lhe dera poder guardar na pele aquele doce aroma, mas o capitão tinha faro de caçador e ela devia enganá-lo para outra vez merecer a visita do anjo. Despia-se do perfume mas conservava o gosto do rapaz na boca, no seio, no lóbulo da orelha, no ventre, no tufo negro, no fundo do corpo. Antes mesmo do banho, Tereza varrera o estreito cubículo, trocara o lençol, deixando a porta aberta para o vento da manhã espalhar o odor de tabaco e os ecos da alegria da noite – sobre o sórdido colchão de triste memória acendera-se o arco-íris. (clik na imagem e aumente)
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