quarta-feira, junho 08, 2011

TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA




Episódio Nº 121







Palavras, gestos, sons, carícias, um mundo de lembranças; no quarto do capitão ainda escuro, deitada na cama de casal, Tereza recordou cada instante. Meu Deus, como pode ser tão bom o que fora penosa agonia? Quando Daniel a penetrou, após lhe despertar os sentidos e lhe acender o desejo, quando a teve e a ela se deu, e juntos gemeram – só então Tereza soube porque, enquanto o tio Rosalvo bebia cachaça na venda de Manuel Andorinha, batendo pedra de dominó, a tia Filipa sem necessidade nem obrigação, gratuita e contente, trancava-se no quarto homens conhecidos da feira e dos roçados vizinhos, ou simples passantes.

Ameaçava Tereza: se contar a seu tio lhe dou uma surra de criar bicho, lhe deixo em jejum; fique na porta olhando a estrada, se ele aparecer, corra me avisar. Tereza subia na mangueira, divisava os longes do caminho.

Quando a porta se abria e o homem retomava seu rumo, a tia Filipa toda gentil e risonha, mandava-a brincar e até queimados de açúcar lhe dera por mais de uma vez. Durante os anos em casa do capitão, ao recordar a vida na casa dos tios – fazia por esquecer, mas nas noites a sós, nas noites de dormir e descansar, vinham em farrancho figuras e factos roubar-lhe o sono – Tereza se perguntava a razão do estranho costume da tia – que o fizesse com Rosalvo, vá lá, eram casados e o marido tem direitos, a mulher obrigações. Mas com outros em tão penosa ocupação, porquê? Ninguém a obrigava na pancada, na taca de couro. Porquê, então? Agora finalmente percebe o motivo: tanto pode ser ruim como bom demais, depende com quem a pessoa se deita.

O capitão só regressou pela tarde e ao desembarcar frente ao armazém – as portas fechadas por ser dia de são João – ouviu risos em casa das irmãs Morais. Olhou pela janela; a grande sala de visitas estava aberta e lá dentro, cercado pelas quatro, o jovem Daniel, um cálice na mão, muito fino e agradável a contar da capital, fuxicos da sociedade.

Justiniano acenou, saudando a alegre companhia. Precisa dizer ao rapaz para tomar certos cuidados e não fazer filhos em Teó caso se decida a lhe tirar os tampos. Se a comer discretamente, sendo ela maior, não causará embaraços. Mas de menino no buxo vai querer casar, bota a boca no mundo, faz um escândalo daqueles; tanto mais em se tratando do filho do juiz de direito.

As irmãs Morais pertencem à família tradicional e Magda é carne de pescoço, que o diga o malabarista, fazendo fascina na delegacia, ameaçado de relho. Deu de ombros, o estudante não era de se arriscar por um cabaço: coxas e pregas, dedo e língua lhe bastavam, chuparino de cabaço, lulu de donzela.

Na sala de jantar Tereza engoma roupa, no armazém Chico Meia-Sola curte a cachaça da véspera – quando o patrão não está jamais ele fica em casa, a sós com Tereza. Caboclo forte, com algumas horas de sono se refaz da bebedeira semanal, infalível aos sábados e nas vésperas de feriados e dias santos.

Ainda assim está longe de se comparar com Justiniano Duarte da Rosa, capaz de beber quatro dias e quatro noites, sem pregar olho, derrubando fêmeas, e depois sair de viagem, a cavalo, resistência de ferro. No armazém, Chico escornado, a roncar; o capitão bem do seu, ninguém diria que bebera e dançara a noite inteira e pela manhã alta partira para a roça dirigindo o caminhão – Terto Cachorro rolara bêbado para baixo do banco onde se sentavam os tocadores – na boleia, a seu lado, uma roxinha bem moderna com cara de sonsa, feiosa. Raimundo Alicate quando o vira chegar ao fandango, viera correndo cumprimentá-lo, trazendo de reboque a frangota fingida, de olhos no chão.

- Levanta a cabeça para o capitão olhar teu focinho, perdida. (clik na imagem e aumente)

Site Meter