segunda-feira, junho 13, 2011

TEREZA

BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA





Episódio Nº 125



Tereza, de coração pesado, lavou-lhe os pés. Vontade de fugir em busca de Daniel nas ruas, na casa do juiz ou no chalé das Morais, para com ele partir com rumo do fim do mundo. Tão atazanada e infeliz, não percebeu de imediato o sentido das palavras de justiniano: amanhã tomo o trem para a Bahia, cuide da mala da roupa. Agora mesmo, disse, terminando de lhe enxugar os pés. Agora, não. Amanhã cedo, há tempo. Quando voltou de esvaziar a bacia, já ele estava nu, à espera.

Jamais se sentira o capitão assim preso à cama de casal, cama de Tereza. Não houvera outra de tanta permanência e sedução, já cumprira dois anos, em breve seriam três, e o interesse crescia em vez de se extinguir. Por bonita? Por apertada? Por menina? Por difícil? Quem sabe se nem o capitão sabia?

Durante os dez anos que sobrevivera ao marido, dona Engrácia Vinhas de Morais, esposa saudosa e festeira, homenageara São Pedro, padroeiro das viúvas, na igreja pela manhã, no salão do chalé à noite. Fogueira enorme na rua, em casa mesa posta, a ilustre parentela, os numerosos amigos, vinham rapazes, dançavam com as moças da casa, as quatro filhas casadoiras, Magda, Amália, Berta, Teodora. As filhas solteiras, quase solteironas, mantinham a devota tradição materna; na missa punham velas ao pé da imagem do apóstolo, à noite abriam o chalé. Alguns parentes pobres, raros amigos, nenhum rapaz.

Mas naquele São Pedro a festa das Morais ganhou novo alento: comadres aos montes atrás de mexericos, e o moço Daniel com os olhos de frete e o riso molhado, o pensamento no outro lado da rua, onde Tereza faz das tripas coração na cama de casal de justiniano Duarte da Rosa.

No dia seguinte Tereza arrumou a mala do capitão, nela colocando como ele ordenara, a roupa de casimira azul-marinho, feita para o casamento, poucas vezes usada, praticamente nova, traje de cerimónia – para o Dois de Julho em palácio com o Governador. Ternos brancos, as melhores camisas, em quantidade, pelo jeito ele leva intenções de demora.

Antes de sair para tomar o trem, deu ordens a Tereza e a Chico Meia-Sola: todo cuidado com o armazém, olho nos caixeiros – com o patrão em viagem podem querer roubar em proveito próprio, levar farnel para casa. Como de hábito, quando o capitão se ausenta, cumprindo-lhe as ordens, Chico Meia-Sola dormirá no armazém, numa cama de vento; para cuidar da mercadoria, por medida de segurança; mas também, concerteza, para mantê-lo à noite fora dos limites da casa propriamente dita, sem possibilidades de contacto com Tereza.

Quanto a Tereza, proibida de botar os pés fora de casa ou do armazém, de dar trela aos fregueses, as conversas reduzidas ao indispensável. Terminado o jantar, Chico trancado no armazém, ela trancada em casa na cama a dormir. O capitão não quer mulher sua na boca do mundo; com razão ou sem razão era-lhe igual.

Sem uma palavra – até a volta, até breve – sem um gesto de adeus, tocou-se para a estação, Chico Meia-Sola a lhe levar a mala. No bolso do paletó, junto ao convite do governador, a carta de apresentação para Rosália Varela, portenha exercendo na Bahia, cantora de cabaré especialista em tango argentino e em passatempos de boca, boquilha de larga nomeada, enaltecida em letra e música:”Tua boca viciosa de marafona…”

Pouco antes de sair ao mudar de roupa, vendo Tereza Batista de costas junto ao armário, o capitão sentiu aquela coceira nos bagos, suspendeu-lhe o vestido e agarrando-a por trás, no toba
lhe foi em despedida. (clik na imagem e aumente)

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