sexta-feira, julho 01, 2011

TEREZA

BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA




Episódio Nº 141



Porque pensara possível conviver alegre com o doutorzinho, sentir prazer em deitar-se com ele, de repente capaz de abrir-se em desejo e gozo? Achando-o atraente, imaginou, quem sabe, afogar em sua companhia a lembrança do mestre de saveiro, experimentando arrancar do peito o punhal fincado. Amor sem esperança, precisava dele libertar-se. Fácil de pensar, impossível de realizar; trazia-o na pele e no coração, envolvendo-a, tornando-a impenetrável a qualquer sentimento ou desejo. Estouvada cabeça de-vento, idiota.

Quando em Buquim se deitou com o doutorzinho, quando ele a tomou nos braços, o frio a envolveu, aquela capa de gelo a cobri-la em cama de prostituta, a mantê-la íntegra e a competência, nada mais.

Idiota, esperara poder divertir-se, sentir o prazer subir da ponta dos dedos, amadurecendo nos seios e no ventre, levando corpo e coração a esquecerem o gosto de sal, o aroma de maresia, o peito de quilha. Estouvada cabeça de-vento, três vezes idiota.

Corpo frio e distante, quase hostil de tão fechado, outra vez donzela, por isso mesmo mais apreciada. O doutorzinho enlouquecido – nunca vi mulher tão apertada, nenhuma virgem se lhe compara, coisa mais louca não existe! – em desvario. Para Tereza, a molesta prova de sempre: ai, como pudera pensar.

Ai, Januário Gereba, que para sempre trancaste meu peito, o coração e o xibiu!

J

Já não podia suportar o desencadeado desejo do doutorzinho, sem horário e sem descanso, a qualquer momento querendo e convidando, certamente a acreditar estivesse ela participando e atingido com ele aquelas culminâncias. Assim fora o capitão, tendo-a de escrava à disposição, não importante hora, ocasião, local. Outra coisa não havendo em Buquim a se fazer, não faltava razão ao disponível director do posto de saúde – vamos matar o tempo na folgança, minha papa-fina. Pelo gosto do doutorzinho a noite se prolongaria dia afora, habitando os dois na cama, sem outro apetite ou afazer além daquela posse que Oto imaginava mútuas quando eram apenas dele; para Tereza, penosa obrigação.

Mas, como dizer-lhe vou-me embora, nada me prende aqui, estou cansada de representar, nada me cansa tanto, vim de companheira em triste engano, posso exercer de prostituta mas não me dar de amiga e amante? Como dizer-lhe se aceitara vir e ele a tratava com gentileza e mesmo com certa ternura nascida da luxúria a fazê-lo menos cínico e menos suficiente, quase grato?

Como largá-lo ali, na cidadezinha sem qualquer diversão, sem nada para encher o tempo? Tinha de fazê-lo, no entanto, não mais suporta a máscara na face fixada, asfixiante.

Durou quatro dias, o tempo das pústulas se abrirem na cidade invadida e condenada. (clik na imagem e aumente)

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