TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 145
- Este também já pegou a desgraçada . Veja, é uma epidemia, caro colega; a gente vê o começo mas ninguém sabe quem sobra para ver o fim. Já vi três do começo ao fim, desta agora não escapo, com a bexiga não há quem possa.
Doutor Oto Espinheira atira o cigarro ao chão, tenta dizer alguma coisa, não encontra as palavras. Zacarias quer saber:
- O que é que eu faço, doutor? Não quero morrer, porque houvera de morrer?
Convocada pelo doutor Oto, chega finalmente ao posto a enfermeira Juraci; sonhava safadezas com o noivo, quando Maxi acordou toda a gente da casa onde ela alugara quarto com refeições – a voz da contrariedade e do desafio:
- Mandou-me chamar a estas horas, doutor, para quê?
- Doutorzinho folgado, de dia não aparece, manda acordar a gente de noite – Que coisa mais urgente é essa?
O director não responde, novamente irrompe o rouco acento de Zacarias:
- Por amor de Deus, me socorra, doutor, não deixe eu morrer – Dirige-se ao doutor Evaldo, conhecido em toda a região.
A enfermeira Juraci tem o estômago delicado, ai, o rosto do homem, em chagas! Não volta a perguntar por que a tiraram dos lençóis àquela tardia. Doutor Evaldo repete monótono:
- É uma epidemia, caro colega, uma epidemia de bexiga.
Medicando enfermos, confortando moribundos, ajudando nos enterros, conseguindo, inclusivé, salvar uns quantos da morte, incólume escapou de três epidemias. Atravessará a quarta?
Ao doutor Evaldo bem pouco importa morrer, reflecte doutor Oto Espinheira: trata-se de um macróbio, senil, já não serve para nada, mas ele, Oto, apenas começa a viver. Contudo, quase cego, meio surdo, esquecido, caduco na má-língua do farmacêutico, doutor Evaldo ama a vida e luta por ela com os limitados recursos de médico de roça. De todos os presentes, só ele e Zacarias pensam em se opor à doença.
A enfermaria Juraci tem ânsias de vómito; Maxi das Negras procura se recordar de quando se vacinou da última vez, já deve fazer mais de dez anos, a vacina já perdeu o efeito; doutor Oto acende e apaga cigarros.
Um vulto surge à porta, pergunta:
- Doutor Evaldo está aí?
- Quem me procura?
- Sou eu, Vital, neto de dona Aurinha, doutor. Minha avó morreu, andei à cata do senhor de deu em deu, acabei aqui. É para o atestado de óbito.
- Coração?
Possa ser, doutor. Apareceu uma carga de brotoejas lá nela, depois um febrão, nem deu tempo de chamar o senhor, bateu as botas.
- Brotoejas? – Doutor Evaldo pede detalhes, na desconfiança.
No rosto e nas mãos doutor, pelo corpo todo, lá nela; coçara-se e morrera na subida da febre – o termómetro do vizinho marcara mais de quarenta graus. (clik na imagem e aumente)
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