sexta-feira, julho 08, 2011

TEREZA

BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA







Episódio Nº 147




Ai que lhe enrolaram, meu doutorzinho, os chefões “a la vonté” em Aracaju gozando a vida e a caveira do rapaz bonito e bom de bico, garanhão, protegido do governador, trocando pernas nas ruas da cidade: para ser logo promovido vá tirar cadeia nas ruas de Buquim, um paraíso, o cu-do-mundo, e se a bexiga aparecer por lá, revele-se um Lumiar da medicina e um macho de verdade; ai, me deixe rir, doutor, lhe passaram para trás, botaram direitinho no senhor. Quanto às vacinas, um restim deve ainda haver da última remessa, no armário das drogas, nesse aí quase vazio de medicamentos, a chave quem a guarda é dona Juraci, esta dona mais emproada e besta, com o rei na barriga e cara de quem comeu merda e não gostou, ameaçando queixar-se por escrito se a gente lhe passa a mão no fiofó – ainda se não fosse bunda grandiosa e não chulada, aliás esse traste, meu doutor, não tem direito a bunda, e sim a nádegas, bunda é palavra linda, nádega a mais feia de todas as palavras, benza Deus.

Faz mais de um ano por aqui andou equipa de vacinadoras voluntárias, formada de moças estudantes, sob guarda e direcção de crioula de respeito e acatamento, um peixão meu doutorzinho, tive ensejo de lhe aplicar uns trancos, pois acompanhei o rancho no trabalho de vacinação. Ajudando as moças a convencer alguns na base do esporro e da ameaça, das vantagens da imunização; corja de ignorantes, não lhes sendo dada nenhuma explicação, têm medo de pegar bexiga no acto da vacina, se recusam e até se escondem pelos matos.

Abanando os rabinhos foram embora as menininhas, tendo ainda todo o vasto interior a passear por conta da Saúde Pública em gratuitas férias escolares. Vacina não mandam há meses, mas prometer prometem, o que já é demasiado esforço para aqueles porretas de Aracaju, todos no maior pagode na repartição, no bem do seu, e a gente aqui se matando no trabalho – o doutorzinho com aquela formosura de cabocla, dona Juraci na punheta, uma histérica a encher a paciência dos demais com o tal do noivo, e eu caçando minhas negras por aí, ao deus-dará. Quem tem a chave é a bruxa, meu doutor.

Depressa, dona Juraci, se mexa, faça alguma coisa, não choramingue, não ameace desmaiar, basta de careta e vómito; traga as vacinas e se preparem, a senhorita e mais Maxi das Negras – vossa excelência, sim, e o excelentíssimo – para saírem rua afora vacinando, para isso são pagos pelo estado com o dinheiro dos contribuintes. Levem a caixa com os tubos de vacinas, os apetrechos e soldados se for preciso, vacinem todo o mundo a começar por mim, para dar o exemplo ao povo e me dar ânimo. Só não vou junto, pois meu dever é ficar aqui, no comando das operações.

O estoque existente, fique sabendo seu doutorzinho de meia-pataca, mal basta para vacinar as crianças do Grupo Escolar, alguns graúdos por aí e olhe lá.

Suspenda a manga da camisa e em seguida lhe vacino, talvez ainda seja em tempo, logo veremos; depois, para cumprir obrigação, posso vacinar esse lacaio vil, metido e ousado. Eu própria não preciso, me vacinei em Aracaju antes do embarque, tendo meu noivo me explicado não passar essa conversa de varíola, para sempre erradicada, de bafo do director, do tal que me persegue por ser meu pai da oposição e eu comprometida noiva. Por aqui perto, na casa das famílias ricas, no comércio posso vacinar mas não conte comigo para sair por becos e buracos vacinando a infecta ralé; tocando em bexigosos e vendo pus, não nasci para isso sou moça direita, de família honrada, não sou uma qualquer como essa vagabunda e bêbeda, sua rapariga, tirada do baixo meretrício, posta em rua limpa, numa suprema afronta aos honestos lares de Buquim. Se quer vacinar o populacho, chame a vagabunda e vá com ela.

Ai, não discuta senhorita, não se queixe, não me ofenda, não mereço, sempre lhe tratei com distinção, mas agora exijo obediência, cumpra as ordens, sou o doutor, o director do posto, me respeite e se dê pressa, não vê que estou com medo?

Quando o correio se abrir, seu Maxi das Negras, envie correndo um telegrama oficial a Aracaju
pedindo mais vacinas com urgência e profusão, a bexiga chegou e está matando. (clik na imagem e aumente)

Site Meter